Desde sempre somos confrontados com binómios antagónicos: O Bem e o Mal, o peso e a leveza do nosso amigo Kundera, o quente e o frio, o ser e o não ser...
Mas toda a minha vida o binómio que se apresentou mais complicado de resolver foi o que opõe as diversas perspectivas de a encarar: o copo meio cheio ou meio vazio.
Mas será que a escolha resolverá alguma coisa? É que, no fundo e apesar do livre arbítrio, a vida será sempre o meio copo que, incansavelmente, tentamos encher...
Viverei para ti e
para que toda a felicidade te seja pouca, pois se a minha vida serviu para algo
foi para te ver nascer, para te ver de alma livre e com os ventos a teu favor.
Talvez seja esta a
fonte de toda felicidade humana, alguém fora de nós, receita apurada das nossas
virtudes e defeitos, mas renascendo com toda aquela esperança que já perdemos
algures no cansaço dos dias.
Brindemos, então, à
nova aurora do dia mais esperado, para que o teu sorriso seja sempre
verdadeiro, o teu coração sempre sincero e a tua alma sempre inquebrável. A
nós, teu amparo e guia, e a ti nossa luz na madrugada.
Ninguém está livre de romper, descoser e rasgar roupa. Acontece, basta usá-la. Desde bainhas descosidas, a casacos sem botões, fechos partidos, colchetes misteriosamente desaparecidos, rasgões provavelmente sem reparação, pequenos buracos de cigarros, malhas repuxadas, peças largas de mais e alças soltas.
Inevitavelmente, ao fim de algum tempo, vão-se acumulando peças no fundo no armário à espera que alguém pegue nelas para lhes dar vida de novo. E enquanto isso não acontece, ficam ali, no escuro, no fundo do armário, à espera que alguém tenha paciência para tratar delas.
A verdade é que eu até sei coser. Mas falta-me o tempo e a disponibilidade para me sentar, de agulha e linha na mão, a coser tudo o que tem de ser remendado, como se tivesse todo o tempo do mundo, como se não houvesse mais nada urgente para tratar. E no procrastinar, vou ouvindo esta música que é tão bonita que até faz a costura parecer uma tarefa fácil.
Ao meu querido Fede e a todos os que cá ficaram, deixo-vos este poema de Oswaldo Montenegro. Porque, feitas as contas, somos todos feitos de metades.
«Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca pois metade de mim é o que eu grito a outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante pois metade de mim é partida a outra metade é saudade. Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos pois metade de mim é o que ouço a outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada porque metade de mim é o que penso a outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância pois metade de mim é a lembrança do que fui a outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito e que o seu silêncio me fale cada vez mais pois metade de mim é abrigo a outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba e que ninguém a tente complicar pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer pois metade de mim é plateia a outra metade é canção. Que a minha loucura seja perdoada pois metade de mim é amor
Troco todas as vistas de Lisboa por um pedaço de chão. Troco o barulho das gaivotas que amo, troco largas janelas abertas de frente para o casario, para o rio, para o mar, até troco o estendal da roupa e a brisa fresca da manhã, por dez palmos de terra em que possa descansar os meus olhos no final de cada dia de agitação. Troco tudo, incluíndo a segurança virtiginosa das alturas, pelos meus pés descalsos na relva e pelas janelas de casa escancaradas, longe da intromissão dos vizinhos curiosos.
No momento em que encontrei aquele pedaço de terra velha e suja e a vi por entre as fissuras e escombros, sabia que era ali. A minha casa, a minha Macondo. O cenário da minha história, independentemente do argumento. E assim, troquei o azul riscado de aviões, pelo verde sereno da aurora. Troquei o cheiro a maresia, pelo cheiro a pão quente que me invade a casa, sem permissão, todos os dias.
Transformei a ruína em minha casa, no meu chão. E agora, que tenho um local que me pertence e onde pertenço, posso finalmente parar de andar sem destino, desfazer as malas, desencaixotar relíquias, sair do vaso e espraiar raízes terra adentro. Encontrei o meu lugar, onde posso ler livros à sombra, no embalo da música que vem de dentro, com o cheiro do café acabado de fazer. E de pão quente, a todas as horas. A calma no meio do caos da cidade.
Como uma árvore precisa de terra para criar raízes, também eu preciso de chão para me plantar.
Nunca
te pedi flores, não foi isso que falhou. Pedi-te respeito, atenção, amor até,
mas flores não.
Pedi-te
que não me exigisses mais do que exiges a ti próprio, pedi-te que fosses equipa
em vez de patrão, pedi-te que te lembrasses que dar valor às pequenas coisas do
dia-a-dia que vou resolvendo por nós em vez de as tomares como algo adquirido
e, bem vistas as coisas, sempre insuficiente.
Se
não gosto de flores? Claro que gosto de fores, se não fossem usadas como
contrição das tuas falhas. Se fossem apenas flores, claro que tinha gostado.
Mas as flores perecem e daqui a duas semanas, depois de mortas, já não existirá
mais nada para nos recordar desse teu grande gesto para equilibrar os pratos da
balança ou para agradecer o esforço a mais que faço pela equipa.
Porque
é que o faço? Bem, duas razões: a primeira é porque se não o fizer, tu não
fazes e dás-te ao luxo de declarar a mulher incompetente que sou pelo facto da
casa estar assim, a má mãe que sou porque me demorei mais tempo no trabalho, ou
a desleixada que sou porque deixei de ir ao ginásio ou porque já nem me esforço
para te agradar, que eu antes, no princípio, não era assim. A primeira razão é
de facto já não querer mais discutir e ser mais uma vez criticada pelo facto de
não preencher todos os critérios de ser uma boa mulher. Eu sou melhor mulher do
que tu és homem e vens outra vez com esse ramo de flores como se apagasse todo
um ano de críticas infundadas.
A
segunda razão pela qual assumo o governo da casa e dos filhos quando esse
trabalho deveria ser para uma aldeia inteira e não para uma pessoa sozinha que,
no meio disso tudo, ainda tem de encontrar 10 a 12 horas livres para trabalhar,
sem esperança de alguma vez ganhar o mesmo que tu, é porque eu fui educada
exatamente da mesma forma que tu. Na minha casa também tudo aparecia feito,
roupa lavada, comida deliciosa. Também tenho isso como ideal. Tudo impecável. E
na minha casa, era uma mulher que tratava de tudo e eu sinto-me culpada por não
conseguir fazer igual. Sinto-me estupidamente culpada. E tu que usas essa minha
culpa contra mim e criticas, mesmo que silenciosamente, a minha insuficiência
todos os dias, hoje que é dia da mulher, vens me com flores?
Logo
hoje que me sinto tão culpada por me sentir culpada. Eu sei que não tenho
qualquer culpa. O paradigma mudou. Ambos trabalhamos fora de casa desde que à
mulher foi reconhecida a existência de cérebro, o que depois do reconhecimento
da alma foi uma grande evolução civilizacional. Somos inteligentes,
multifacetadas, muitas vezes até melhores que os homens que nos rodeiam, mas
isso é melhor que não reparem, para não se sentirem ameaçados. Vivo rodeada de
mulheres que se diminuem para não afastar os homens, porque ninguém quer estar
ao lado de mulher com opiniões.
Tu
fazes ideia o que eu já ouvi na vida pelo facto de ser mulher??? E eu nem sou
das que mais padeço com esta condição. Talvez devesse deixar de resistir, eu
sei, parar de lutar e resignar-me como a maioria. Tratar eu de tudo, prejudicar
a minha progressão de carreira, já mais difícil à partida e faltar eu, mais uma
vez, para levá-los ao médico. Talvez devesse deixar-me destas coisas de dizer
que sou feminista. Até porque as mulheres, deste cantinho latino da Europa,
ainda acham que as feministas ou são lésbicas ou cabras que não fazem a
depilação.
Talvez
devesse esquecer as meninas que à nascença são afogadas na Índia, ou as que são
sujeitas a excisão genital na adolescência, as crianças que são obrigadas a
casar, as mulheres que vivem sem possibilidade de decidir o seu destino sem
autorização do marido, as meninas a quem não é permitido estudar. Talvez
devesse esquecer-me de tudo isso e assumir de uma vez por todas o papel que
esta sociedade escolheu para mim, resignar-me e dizer, como as outras, que não
sou feminista, justificando com o facto de o feminismo já não ser necessário.
Estou exausta e se calhar é o melhor que tenho a fazer...
Nunca
te pedi flores, mas obrigada, as flores são lindas e agradeço o gesto, mas a
sua insuficiência é de uma atrocidade tal que não me consegui calar. Desculpa
lá ter explodido assim. Sim, se calhar são as hormonas ou outra coisa qualquer
daquelas que só as mulheres têm de suportar. Deve ser isso. Deixa-te estar no
sofá, vou buscar uma jarra.
Jodida pero contenta é uma ode a quem, como eu, já tomou a decisão de desistir, de fechar um capítulo, de sair de algo que não era o melhor para si. A decisão não é fácil mesmo quando ponderados todos os factores. É uma decisão fodida. Mas quando no nosso íntimo sabemos que é a única certa, o mundo tem o condão de nos mostrar, mais cedo ou mais tarde, que a razão está do nosso lado. E com medo, mas com força, o sentimento só pode ser esse: jodida pero contenta!
Passado mais de um ano, estou só contenta. Da esperança de o mundo poder ser meu, passei à realidade da alegria. E é também com alegria nostálgica que oiço esta música. Com a alegria que vem da força que tenho, da mulher que sou e do facto de as rédeas da minha vida estarem nas minhas mãos. Sem arrependimentos.
Para a estória da nossa vida ser fantástica, temos de ser nós a escrevê-la. E na minha estória, que aceito na sua totalidade, sem rasuras, já se podem ler muitos capítulos extraordinários. Só espero ter a sorte de poder viver muitos mais, com esta alegria.
No início dos 40 dias de
quaresma, que representam os 40 anos de caminho do povo judeu e os 40 dias de
jesus no deserto, somos relembrados, mais uma vez, da nossa insignificância e
fragilidade.
Somos todos pó, átomos de carbono,
oxigénio, nitrogénio, hidrogénio, fósforo e no meu caso nicotina, que se vão
agrupando segundo regras invisíveis às quais somos totalmente alheios. Nascemos
do pó, voltaremos ao pó, e nos entretantos vamos pagando impostos, são estas
as nossas únicas certezas.
De resto nada é certo, nem a
hora em que tudo acaba, nem o lugar, nem a razão. Somos pó, e quando somos
confrontados com essa realidade, quando nos lembramos que o somos, os nossos
alicerces estremecem e durante uns tempos tentamos perceber o sentido.
E não chegamos a conclusão
nenhuma, porque não há sentido algum, restando-nos apenas ir vivendo, na
esperança, de que do pó renasça uma fenix e de que um dia possamos estar todos juntos
outra vez.
Enquanto pondero variáveis a cada
passo que dou nesta calçada de lisboa, com medo de errar o passo, de tropeçar,
de me perder entre caminhos e atalhos, de entrar em becos sem saída… enquanto o
medo me congela várias vezes o andamento e das outras vezes me faz acelerar em
busca de algo que não sei o que é, uma explicação ou lógica talvez, uma porta entreaberta
ou uma janela encostada, há quem se encontre num intermezzo a aguardar por um
sinal qualquer da graça de Deus, há quem lute pela vida no sentido mais cruel
da expressão, numa cama de hospital, com o coração nas mãos e a coragem no
peito e no sorriso, que aposto que se mantém.
A cada passo que dou neste meu
percurso, no caminho profissional e pessoal, que às vezes é mais tortuoso do
que o previsto, penso nestas partidas que a vida nos vai pregando sem avisar, e
no sentido que tudo isto tem (ou não) e se vale mesmo a pena.
A cada passo que dou rogo para
que tudo se resolva, para que este intermezzo na vida de quem está à espera de
saber se pode continuar seja breve. As minhas angústias são fúteis em
comparação com as angústias de quem tem filhos para criar e não sabe se o vai
poder fazer ou se vai ter de o fazer sozinho. E por essa razão, nos últimos
tempos os meus passos, preces e pensamentos são dedicados a ela e a quem está como ela, a fazer
contas aos dias e às horas. Que este intermezzo acabe rápido e que um dia,
quando olhares para trás, seja apenas uma pequena parte na grande composição musical
que é a tua vida.
As the
years go by, I’ve been losing all my references. It's strange to live in a world
without David Bowie. I'm getting old and I don't like this feeling of constant
loss.
At least music is eternal and we will always have your songs.
So, let's dance.
Rest
in Peace David. Your Space Oddity starts now. Thank you for everything.
"Ground Control to Major Tom Ground Control to Major Tom Take your protein pills and put your helmet on Ground Control to Major Tom (Ten, Nine, Eight, Seven, Six) Commencing countdown, engines on (Five, Four, Three) Check ignition and may God's love be with you (Two, One, Liftoff)
This is Ground Control to Major Tom You've really made the grade And the papers want to know whose shirts you wear Now it's time to leave the capsule if you dare "This is Major Tom to Ground Control I'm stepping through the door And I'm floating in the most peculiar way And the stars look very different today For here am I sitting in my tin can Far above the world Planet Earth is blue And there's nothing I can do
Though I'm past one hundred thousand miles I'm feeling very still And I think my spaceship knows which way to go Tell my wife I love her very much, she knows Ground Control to Major Tom Your circuit's dead, there's something wrong Can you hear me, Major Tom? Can you hear me, Major Tom? Can you hear me, Major Tom? Can you hear And I'm floating around my tin can Far above the Moon Planet Earth is blue And there's nothing I can do."
De um dos melhores filmes, com os melhores actores e com uma das melhores bandas sonoras de sempre, faltava o melhor poster. Não é um poster oficial, este foi criado por James Gilleard. E cada vez que olho para o Bill só me lembro de Seu Jorge a cantar o Life on Mars de David Bowie em versão portuguesa do Brasil. Fica o poster e a letra.
E como o Bill está com as cores da quadra, qual S. Nicolau dos tempos modernos, ficam também os meus votos (atrasados) de Feliz Natal!
Muitas vezes o coração
Não consegue compreender
O que a mente não faz questão
Nem tem forças pra obedecer
Quantos sonhos já destruí
E deixei escapar das mãos
Se o futuro assim permitir
Não pretendo viver em vão
Meu amor não estamos sós
Tem um mundo a esperar por nós
No infinito do céu azul
Pode ter vida em Marte
Então, vem cá me dá a sua língua
Então vem, eu quero abraçar você
Seu poder vem do sol
Minha medida
Meu bem, vamos viver a vida
Então vem, senão eu vou perder quem sou
Vou querer me mudar para uma life on mars
Muitas vezes o coração
Não consegue compreender
O que a mente não faz questão
Nem tem forças pra obedecer
Quantos sonhos já destruí
E deixei escapar das mãos
Se o futuro assim permitir
Não pretendo viver em vão
Meu amor, não estamos sós
Tem um mundo a esperar por nós
No infinito do céu azul
Pode ter vida em Marte
Então, vem cá me dá a sua língua
Então vem, que eu quero abraçar você
Seu poder vem do sol
Minha medida
Meu bem, vamos viver a vida
Então vem, senão eu vou perder quem sou
Vou querer me mudar para uma life on mars
2015 (MMXV) é um Ano Comum do Século XXI, da Era Comum, que teve início a uma Quinta-feira, segundo o calendário Gregoriano. Para mim, foi tudo menos um ano comum, independentemente das noções de comum que possam existir neste planeta.
O 15.º ano do terceiro milénio, o 6.º ano da década de 2010. O 31.º ano da minha vida. E apesar de tudo, a terra move-se e continuará a mover-se. A insignificância dos eventos manifestados neste meu ano de 2015 na trajetória do planeta é, e sempre será, inabalável.
2015 foi designado o Ano Internacional da Luz e o Ano Internacional dos Solos pela 68.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.Na minha assembleia geral subscrevemos a mesma designação. Foi definitivamente o ano da luz e do chão. Os raios de luz chegaram ao chão, onde me encontrava prostrada. E eu que só me queria erguer... E surpreendentemente, o meio copo, a média ponderada do bom e do mau, da luz e do chão, não funcionou da forma mais eficaz. E se o mau e o bom não são um meio copo aceitável, o péssimo e o óptimo não fazem um copo que eu queira beber. Nunca mais.
2015 teve mais um segundo, que foi acrescentado à meia-noite do último dia de junho. Talvez tenha sido por isso que tenha passado tão devagar... E tão depressa. Talvez seja essa a razão deste cansaço. Por vezes, um segundo faz toda a diferença. Ano Comum... Parece que estão a gozar.
Vade retro 2015. Não voltes nunca mais.
P.S.: 2016 (MMXVI) é um Ano Bissexto do Século XXI, da Era Comum, que terá início a uma Sexta-feira, segundo o calendário Gregoriano.O 16.º ano do terceiro milénio, o 7.º ano da década de 2010.O 32.º ano da minha vida. Foi designado o Ano Internacional das Leguminosas pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Segundo o Horóscopo Chinês 2016 será o ano do macaco :)
2016 falamos daqui a uns dias.. Ainda não percebi a questão das leguminosas e tenho umas coisas para te explicar.
Allons enfants de la patrie Le jour de gloire est arrivé Contre nous de la tyrannie L'étendard sanglant est levé L'étendard sanglant est levé Entendez-vous dans les campagnes Mugir ces féroces soldats Ils viennent jusque dans vos bras Égorger vos fils, vos compagnes
Aux armes, citoyens! Formez vos bataillons! Marchons, marchons Qu'un sang impur abreuve nos sillons!
Français, en guerriers magnanimes Portez ou retenez vos coups! Épargnez ces tristes victimes À regret s'armant contre nous À regret s'armant contre nous Mais ces despotes sanguinaires Mais ces complices de bouillé Tous ces tigres qui, sans pitié Déchirent le sein de leur mère!
Aux armes, citoyens! Formez vos bataillons! Marchons, marchons Qu'un sang impur abreuve nos sillons!
Amour sacré de la patrie Conduis, soutiens nos bras vengeurs! Liberté, liberté chérie! Combats avec tes défenseurs Combats avec tes défenseurs Sous nos drapeaux, que la victoire Accoure à tes mâles accents Que tes ennemis expirant Voient ton triomphe et notre gloire!
Aux armes, citoyens! Formez vos bataillons! Marchons, marchons Qu'un sang impur abreuve nos sillons!
É esta a banda sonora dos meus pensamentos quando vejo o que tem vindo a acontecer à humanidade desde há muitos anos atrás.
Agora erguem-se muros na europa e o nó cego da minha garganta aperta mais um pouco e o meu cérebro paralisa por falta de capacidade em processar as notícias que chegam sobre o desamor que cresce no mundo alegadamente civilizado.
Aceitar a realidade de que os homens são maus, não por desconhecimento, mas por uma vontade própria, informada e egoísta é uma tarefa hercúlea, na qual tenho vindo debater-me ao longo dos anos. Ainda assim a minha alma, bem como o meu corpo, continuam a rejeitar a realidade de só vivermos para dentro. A folha que eu fui, já não me lembro bem quando, transformou-se em bola de papel, amarfanhada, arrastada pelo vento e pontapeada por quem passa na rua, enquanto tento perceber a lógica irracional de ter sido colocada num mundo tão errado para mim.
Mas quando oiço esta música, lembro-me que como eu há muitos que também não compreendem a crueldade da ordem desorneda em que gastamos os nossos dias. Quando trauteio a letra que sei de cor, porque a repetia com as minhas primas a caminho da praia, sei que tenho de fazer alguma coisa. Ainda só não sei o quê.
"Eu não espero pelo dia Em que todos Os homens concordem
Apenas sei de diversas Harmonias bonitas Possíveis sem juízo final..."
"This is pretty scary…" says one of
the guys before the kissing begins. Isn’t it always?
Strangers or almost familiar faces replicate, since
the beginning of times, and over and over again until the end of humanity, the
fear and the nervous laughs that come before a first kiss (and the ones that
follow). But, isn’t the repetition of the inhaled passion that occurs during and the undisguisable
smile of joy that appears immediately after (and lingers for a while) that makes
us all human?
The truth is that nothing compares to the
beauty and the emotion carried by a first kiss between two people. The stare
into another’s sole through his/her eyes and the embrace that instinctively
occurs every single time. And, strangely enough, with our eyes closed, we feel
like we can conquer the world.
This video evidences the perfection of some of those
moments, usually missed because is quite impossible to pay attention with the eyes
wide shut.
Thus, today I say thanks to those
strangers for sharing such precious moments with the rest of us. And, for
reminding me that, in fact, I am a hopeless romantic.
Em 2006, na preparação de mais um Sudoeste com o gang, fui perscrutar o cartaz para tentar compreender o que daquela lista de nomes interminável valia a pena ouvir. "Encontrei" as músicas dos artistas que achei valerem a pena e gravei um CD para ouvirmos a caminho, no estágio de mais um verão que ficou marcado na história da minha vida. Seu Jorge constava da referida compilação. O gang ouviu e aprovou e assim, no dia e à hora marcada, lá estávamos nós, na tenda alternativa com mais 40 pessoas, mesmo ao início da noite.
O Seu Jorge decidiu, de cigarro da boca, abrir as hostilidades com um "Não vou nada bem" a roçar o metal, alternado com dezenas de palavrões berrados desafinadamente ao microfone. As minhas amigas ficaram em pânico. Era a tenda alternativa e ali já tinha visto bem pior. E por isso, foi de braços abertos que nos deixámos ficar e recebemos, em primeira mão, um pequeno grande concerto de um músico a seguir. A honestidade da sua desafinação rouca lançada com toda a liberdade no perfeito compasso do funk, samba e mpb, prendeu-me para sempre àquele preto magricela, fazendo dele o Meu Jorge. E desde aí, alguns albuns e outros tantos concertos mais tarde, continuo fiel.
Mais uma vez, este ano, numa arena onde cabiam 50 tendas alternativas, lá fui ouvir o meu Jorge que já não era só meu mas de um mar de gente. É um facto, meu Jorge virou moda mas nem isso me impediu de ir vê-lo.
E amei cada segundo. Cada balada, cada minuto dos trinta que demorou a recitar mais um texto interventivo, como é habitual nos seus espectáculos.
No entanto, à minha volta, multiplicavam-se as expressões de tédio e de arrependimento, porque é que a seca do preto não se cala e toca qualquer coisa para a malta dançar. Tentei não ligar e segui gritando e cantando com o resto dos meus pulmões a alegria que queria manter e contagiar, apesar de tudo.
Com a "Burguesinha" e a "Amiga da minha mulher" meu Jorge falou ao coração das massas e as massas responderam na excitação de mais uma música de verão. No entanto, meu Jorge é mais do que duas músicas óptimas para soltar o pandeiro. E isso causou desilusão à burguesia que ansiava dançar repetições da mesma fórmula de seu sucesso. Mas meu Jorge é o Jonhy Depp da música brasileira, que apesar dos blockbusters que lhe trazem muito dinheiro, o qual agradece, não se conforma ao que esperam dele e mantem-se inalterado no talento da sua honestidade atroz.
Desde o tive razão, ao menino que vende balas no trem, tudo era tão bom que a minha voz exultava de alegria por saber o privilégio que era lá estar com ele. Já mais para o fim, antes dos hits da noite, ele cantou só mais uma balada, a minha balada, Life on Mars, um cover adaptado para português da música de David Bowie e que faz parte da delícia de filme que é o Life Aquatic. E que, salvo erro, nunca tinha feito parte dos seus alinhamentos nos concertos em que estive presente. Aquilo era meu Jorge, exatamente à minha medida e eu estava feliz.
E o que dizer da ressaca do concerto, quando no dia seguinte a burguesia em peso critica o meu Jorge por ele ser exactamente o que ele, tornando viral um downgrade de Bestial a Besta, literalmente da noite para o dia?
Quase nada. É um misto de tristeza por não o compreenderem e não saberem o que perdem; de indiferença, porque sei que é para o lado que o meu Jorge dorme melhor; e de alegria, porque sei que no próximo concerto a burguesia que foi desta vez vai ficar em casa, e pode ser que assim sobre alguma cerveja. Independentemente do local do próximo concerto do meu Jorge, sei que lá estarei.
Com catorze anos as pessoas já tinham computador e jogavam Prince of Persia. Mas o que eu queria mesmo era uma máquina de escrever. Foi dos melhores presentes que alguma vez recebi, sendo o meu maior tesouro. Actualmente, tendo abraçado a tecnologia, olho com nostalgia para o tempo em que premia as duras teclas da Olivetti, com o cuidado de não me enganar e ter de começar de novo. Hoje em dia tudo pode ser reescrito, corrigido, alterado, apagado. Naquela altura, as coisas eram mais permanentes, com tudo de mau e de bom que isso signifique. Mas uma coisa permanece, independentemente da tecnologia... A vontade inultrapassável de jorrar pensamentos no papel, seja físico ou virtual. A necessidade de soltar as palavras de dentro para fora, como se me faltasse o ar. O desejo que estas vivam depois de mim. O amor pela escrita fez de mim o que sou hoje, fez-me optar por um caminho que talvez não fosse o melhor para mim. E ao olhar para a Olivetti vejo um monumento do que fui e do que sou e do que não pode nunca ser esquecido. Eu sou na escrita e a escrita é em mim. E por muito que a falta de tempo oblitere este meu amor, sei que, mais cedo ou mais tarde, posso e vou voltar a ela. Porque nas palavras encontrei o amor da minha vida.