Se a
vida fizesse sentido ou seguisse uma lógica qualquer passível de explicação
razoável não era preciso pressa. Podíamos esbanjar os dias agastados com
preocupações irrelevantes e consumidos por actividades repetitivas e banais com
o objectivo ilusório de chegar a um lado qualquer. Podíamos zangar-nos uns com
os outros por motivos estúpidos, dar importância ao que não interessa e levar
uma vida de frugalidade vã. Podíamos viver agarrados aos nossos medos,
submergidos nas nossas rotinas e adormecidos pela tecnologia.
Mas a
vida segue uma lógica completamente deturpada e leva mais cedo os que fazem
mais falta, sem qualquer aviso ou razão. E o tempo… Esse fica sempre aquém do necessário
para podermos criar todas as memórias e viver todos os momentos que eram nossos
e que nos são arrancados, juntamente com os nossos planos, para o lugar onde
habitam os sonhos por sonhar.
E por
isso, enquanto é tempo é preciso dar valor a todos os minutos e amar tudo, dar
todos os beijos e todos os abraços. Enquanto é tempo é preciso sorrir sempre,
não deixar passar nenhum pôr-do-sol, nenhum jantar, nenhum copo de vinho verde
ao som de Caetano e outros que tais. É preciso não deixar nada por dizer, mergulhar
em cada onda, apanhar cada reflexo e cada brisa no verão. É preciso ler,
cantar, viajar e não deixar nada para amanhã, nem a reconciliação, nem aquele
sorriso, nem aquele telefonema, nem aquele encontro. Enquanto é tempo é preciso
fotografar, é preciso escrever, é preciso rir, dançar, dar alcunhas, tomar
banhos de mangueira no terraço e passar noites ao relento na praia. É preciso
acordar cedo, agarrar oportunidades, apanhar sol, andar à chuva e fumar cigarros.
Enquanto é tempo, é preciso acarinhar os amigos e a família e nunca deixar palavras
de afecto para amanhã.
Porque
um dia o tempo acaba-se e o que fica (o que importa) são as gargalhadas, as
músicas, as brincadeiras de criança, os jantares e os dias de sol. E as
saudades imensas e inultrapassáveis, que ficam para nos lembrar de que não há
tempo a perder.
In memoriam
Francisco
Barbosa, meu primo, que viveu de
sorriso na cara, com essa pressa voraz de viver, de amar e de fotografar. Da
última vez que o vi, a felicidade brotava-lhe dos olhos e do sorriso. Estava
apaixonado. Disse-me que estava muito contente por me ver (e eu a ele)… Deu-me
um abraço forte e sorriu.
É
sempre assim que o vou recordar, na certeza de que ele queria que usássemos esta
saudade imensa para não esquecer de dar valor ao que interessa, para aprender a
viver como ele viveu, com pressa, enquanto é tempo.