terça-feira, 19 de março de 2013

Crónica de uma manhã de chuva

 
 
  
     Abro os olhos, na televisão são oito da manhã
         e o teu despertador toca sem sucesso no quarto.
           Acordo, mais uma vez no sofá mas desta vez sem
         o frio habitual que o cão resolveu deixar o melhor
    amigo e fazer companhia à dona por uma vez.
         Ignoro o tocar até porque o braço é curto de mais
   para carregar no snooze e mantenho-me mais
      um pouco no quente desolado do sofá enquanto
         as dores no corpo começam a instalar-se ao ritmo
    da chuva que cai lá fora. 8:45 e já não consigo 
mais ouvir o despertador. Levanto-me, o cão
       levanta-se, entro finalmente no quarto e desligo o
             teu despertador. A cadela dá-me os bons dias a mim
                e ao cão enquanto te pergunto se posso ser a primeira
         a tomar banho e tu dizes sim mas depressa, ainda
       a dormir e maldisposto, provavelmente por causa
             de alguma coisa que te disse num dos meus ataques
                de sonambulismo de sofá que só aparecem quando me
             tentas acordar para levar para a cama. Eu até aposto
         que já nem me tentas acordar, já desististe como te
         pedi, mas sem admissão de culpa continuas a dizer
      que o fazes e que te respondo muito mal de olhos
       bem abertos, tudo para me fazeres sentir culpada
      e fazes, até porque não me lembro de nada e por
        isso, troco o bom dia pelo desculpa não vá o diabo
        tecê-las. Após a contrição, fumo o primeiro cigarro
      entro no banho inundando as ideias e tento que a
água a ferver leve o sono e os desencontros,
     enquanto os cães ladram aos vizinhos que saem
                              sempre antes de nós em direcção ao dia que já começou lá fora.

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