Abro os olhos, na
televisão são oito da manhã
e o teu despertador toca sem sucesso no quarto.
Acordo,
mais uma vez no sofá mas desta vez sem
o frio habitual que o cão resolveu
deixar o melhor
amigo e fazer companhia à dona por uma vez.
Ignoro o tocar até
porque o braço é curto de mais
para carregar no snooze e mantenho-me mais
um
pouco no quente desolado do sofá enquanto
as dores no corpo começam a instalar-se
ao ritmo
da chuva que cai lá fora. 8:45 e já não
consigo
mais ouvir o despertador. Levanto-me, o cão
levanta-se, entro finalmente
no quarto e desligo o
teu despertador. A cadela dá-me os bons dias a mim
e ao cão
enquanto te pergunto se posso ser a primeira
a tomar banho e tu dizes sim mas
depressa, ainda
a dormir e maldisposto, provavelmente por causa
de alguma coisa
que te disse num dos meus ataques
de sonambulismo de sofá que só aparecem
quando me
tentas acordar para levar para a cama. Eu até aposto
que já
nem me tentas acordar, já desististe como te
pedi, mas sem admissão de culpa continuas a
dizer
que o fazes e que te respondo muito mal de olhos
bem abertos, tudo para me fazeres
sentir culpada
e fazes, até porque não me lembro de nada e por
isso, troco o
bom dia pelo desculpa não vá o diabo
tecê-las. Após a contrição, fumo o primeiro cigarro
entro
no banho inundando as ideias e tento que a
água a ferver leve o sono e os
desencontros,
enquanto os cães ladram aos vizinhos que saem
sempre antes de nós em direcção ao dia que já começou lá fora.
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