Sim, existem músicas que têm a habilidade de nos dar
vontade de fugir daqui, de entrar no carro e começar a conduzir para longe, com
rumo ou sem destino certo, e sem data de regresso. Só nós, a estrada e a
música. E os pensamentos vão-se perdendo na estrada, ao longo do tracejado e o
vento que entra pelas janelas areja-nos a alma e deixamo-nos ir, com o ritmo
frenético num volume ensurdecedor, enquanto sorvemos mais um cigarro.
Sim, existem músicas que nos tiram de nós, levando o que
não é nosso, deixando-nos a sós com a nossa humanidade. E aí cantamos, berramos
com a voz que nos resta, porque lá no fundo da consciência sabemos que temos de voltar, mas
naquele momento o regresso parece distante ao ponto de desejarmos tratar-se de uma
viagem sem regresso.
Sim, existem músicas que nos tiram o ar, o chão e dão-nos
todo um mundo de possibilidades em troca, se largarmos tudo e formos com ela.
E como não podemos, porque a música acaba e a coragem desvanece-se antes do encore, só nos resta recuperar o folego,
encher os pulmões como se nos preparássemos para o mergulho mais longo de
sempre, e voltar à terra, na esperança de que passe… Com o tempo tudo passa,
certo?
Sim, existem músicas que nos enchem a alma e a de hoje é esta. Enjoy! :)
2 comentários:
Uma semana depois da publicação deste texto, por me identificar de tal forma com o mesmo, apesar de habitualmente ser apenas leitor de blogs, sinto que não posso deixar de o comentar.
Encontrei este texto como quem descobre, numa daquelas quaisquer revistas companheiras em calmas tarde de Domingo, uma fotografia de um local onde já estivemos. De um local onde já estivemos e fomos felizes. De um local onde já estivemos, fomos felizes e onde, algures na nossa vida, imaginamos voltar.
Encontrei-me neste texto, mesmo sem que estivesse perdido, ao identificar-me por completo com as sensações e emoções descritas pela autora.
Existem músicas que têm esse poder... E que poder!!! Ao tirarem-nos tudo (ou quase tudo) estas músicas deixam-nos leves... Tão leves que conseguimos elevar-mo-nos num patamar de felicidade em que tocar nas nuvens está à distância de mais uma palavra, de mais um movimento ou de mais um acorde de guitarra...
Newton e a "sua" Gravidade, ao trazerem-nos a segurança que qualquer Lei almeja, trouxeram-nos também a obrigação da descida. E a sensação de descida. A brusca sensação de descida! Essa sensação de descida que nos obriga, tal como descreveu a autora, a respirar fundo! Muito fundo! Mas, mesmo respirando o mais fundo que conseguimos, esta descida em direcção a um patamar mais seguro, talvez pelas diferenças de pressão (arterial?) a que nos sujeita, deixa-nos marcas... Os sintomas mais comuns são nós na garganta ou algum frio na barriga. Remédio? Sim, também aqui, concordo com a autora: tempo...
Contudo, não me parece, quando a música é mesmo boa, que o remédio cure. Parece-me que apenas atenua os efeitos.
Afinal se a música é boa, não a devemos voltar a ouvir?
Se os sintomas surgem como consequência de um momento de felicidade, não serão a melhor prova de que estamos vivos?
Apesar de a não a podermos ouvir todos os dias, pois acreditamos não aguentar tantos encontros com a Gravidade e com as tais diferenças de pressão, não é bom saber que a boa música existe? E que, num destes dias, a podemos voltar a ouvir?
As respostas deixam-me feliz e fazem-me sorrir...
Pedindo desculpa pelo "tamanho" do comentário, aproveito para cumprimentar a autora deixando como "resposta à letra" o link para duas músicas que, por diferentes motivos, sinto estarem ligadas ao já descrito momento da descida (ou mergulho) tornando-o mais suave e feliz na expectativa de uma nova "viagem":
(pela música e letra)
http://www.youtube.com/watch?v=jxKjOOR9sPU
(sobretudo pela letra)
http://www.youtube.com/watch?v=8pHELrsqGgU
Por lapso, no comentário anterior foi inserido um link incorrecto.
O segundo link que pretendia enviar na "resposta à letra" era o seguinte:
http://www.youtube.com/watch?v=_KXYVv36-Lk
Cumprimentos
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