quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Dos que estão longe


 

Chega a um dada altura da vida que chegamos à conclusão que temos pessoas em todos os cantos do mundo. Seja pela análise da origem das visualizações do blog, seja porque a saudade aperta, este é um facto que me assusta, ao mesmo tempo que me dá uma sensação de conforto inexplicável.

Conheço e sinto falta de pessoas que partiram para lugares mais ou menos amenos, para conquistar o mundo, coisa que sempre quis fazer (e  faço, mas sem sair do meu lugar, através de uma espécie de controlo remoto espiritual). O que sinto é que estas pessoas, ainda assim, por terem passado ou por fazerem parte da minha vida, levam um bocadinho de mim com elas. Através dessas migalhas de mim espalhadas pelo mundo como estandartes da minha casa, tenho uma sensação de pertença - que pertenço ao mundo (dúvidas houvesse) e que o mundo me pertence, mesmo sem sair de casa. O mundo é a minha ostra, ou qualquer coisa do género.
Mas a parte pior da internacionalização é a falta que se sente dos que estão a viver por nós momentos inesquecíveis. É muitas vezes, por causa deles, que me dedico a estes textos. Porque sei que há alguém do outro lado que os lê, porque sei que muitas vezes esta é a forma preferencial de comunicação. Não para contar do que se passa na minha vida, que ultimamente se mantém à bolina de um vento calmo, sem nada de novo para contar, mas com a serenidade e calor de um dia ameno de sol, apesar do cansaço que já se vai acumulando no corpo. Mas do que se passa na minha cabeça, que é muito mais desnorteado e interessante, ou não. 

  
  • Assim,  à L. que está em nos EUA: Querida amiga, todos os dias penso em ti e neste oceano que está no meio. E tenho tantas saudades que nem aguento. Esta "personagem de filme de Tarantino" sente falta da sua comparsa de gabinete, conversas, jantares, gostos, de compreensão. És das poucas pessoas que me conseguia criticar e ser dura sempre na altura certa, sempre quando precisava mais. Por isso tenho saudades e quero saber de ti. Sei que estás feliz aí, mas sabes que tens aqui também uma casa e pessoas de braços abertos à tua espera.
  • À prima R. e à baby L. em gestação, que estão em Larnaca - Chipre: Amora, prima-irmã do Guincho e de Fábrica, e de todas as férias e fins-de-semana e madrugadas, acompanhadas de panquecas e gelado. Custa-me tanto não poder partilhar deste momento maravilhoso que atravessas, custa-me não poder por a mão na tua barriga e ver o teu sorriso a resplandecer enquanto trazes contigo o início da tua própria família. Baby L., que vais ser a nova prima caçula, apesar de seres cipriota, espero que esta casa te receba um dia também. Espero poder ver-te crescer, e espero ver os olhos do papá e da mamã a sorrir nessa cara linda, que só poderás ter.
  • À Fifi que está em São Tomé: E que nos escreve e-mails em forma de crónica a contar as estórias recambulescas que ocorrem no coração de África. Enquanto primas mais velhas sempre levámos a responsabilidade de tomar conta e mandar dos pequeninos e agora, com mais pequeninos a caminho, no lado oposto, deixas-me prima mais velha, cheia de ciúmes, do verde efervescente de África. Sabemos que vais voltar com uma bagagem diferente da que levaste, provavelmente mais leve, mas preciosa. Aguardo a volta do correio e a visita do Natal, enquanto me lembro de como cantávamos Laura Pausini agarradas à capa do CD, com as mãos a segurar um microfone imaginário.
  • Ao V. que está no Texas, mas já esteve em Luanda: Raio do homem tem bicho carpinteiro.. Quando chegares a Portugal vai a Fátima na ponta da língua agradecer a santa F. que tens como namorada, que se fosse eu... Tenho saudades das tuas parvoíces e dos teus planos mirabolantes para o que quer que se faça. Vamos mandar uma carta à Oprah para ver se ela te traz de volta depressa. Dos restaurantes esquisitos e de me emprestares Cd's (muitos deles ainda tenho aqui), e das festas e de me teres acolhido no teu grupo de amigos como que sempre tivesse estado ali. Foste aquele que me aturaste e me deste esperança, quando mais precisava. Tenho muitas saudades tuas e gosto muito de ti.
  • À J. que está em Dili: E que do fim do mundo nos escreve crónicas deliciosas e nos maravilha com fotografias sempre inesperadas, dando-nos a conhecer o fim do mundo. Saudades dos lanches na copa e nas conversas à porta do escritório que nos faziam querer ficar mais um pouco, antes do regresso a casa. Que essa experiência fortaleça ainda mais a tua personalidade vencedora e o vosso amor-modelo, e que tragas tudo isso de volta para partilhar connosco.
  • À S. que vai-e-não-vai, vai a Angola: E que me leva como companhia de viagem, quando a Internet funciona, que a vida de rotator não é nada fácil. Temos sempre saudades da tua frontalidade irónica e do teu sorriso cada vez que estás lá fora.
  • À C. que está em Macau: E que também escreve e partilha connosco as maravilhas asiáticas e do amor, que gosto de ler por ter a compreensão de que viu os filmes que eu vi. Vai escrevendo mais que temos saudades.
E a todos os outros, dos quais não me esqueci...

Obrigada por me fazerem viajar convosco e por me levarem na bagagem do pensamento. É assim que eu ganho mundo todos os dias.

2 comentários:

Anónimo disse...

Como vês, embora a cair de sono, ainda vim ler. Ou não fosse eu ter acordado hj de madrugada exactamente para matar saudades dos que estão longe! Very well done once again! ;) bjs

Miss Jones disse...

Amora, tu sofres na pele, repetidamente, os males da distância. Foi também a pensar nos que ficam que escrevi este texto. Afinal somos nós que os recebemos de braços abertos e lhes damos pequeno almoço quando regressam a casa.

Obrigado pela leitura e comentário.
Bjss