Quem me conhece sabe que é verdade: gosto de ser portuguesa, tenho orgulho no meu país e defendo Portugal com tudo o que tenho contra qualquer ataque. Já tive várias discussões com quem diz que devíamos ser tomados pelos Ingleses ou pelos Espanhóis para sermos civilizados ou com quem diz que somos todos uma cambada de pobres de espírito. Não aceito isso.Não aceito que o meu país seja assim tratado.
Não é uma posição ingénua ou infantil da minha parte. Esta é a posição de quem não baixa os braços perante as adversidades, de quem não desiste do que é seu. E eu nunca vou desistir do país que é a minha casa e dos Portugueses que são meus concidadãos.
Mas na verdade, de há uns tempos para cá, tenho vindo a desiludir-me cada vez mais com Portugal e com os portugueses. E não digo isto pela crise ou pela classe política, ou pela corrupção espalhafatosa que sai impune, sem vergonha pelas ruas. Nem é disso que se trata. Não que me conforme com esse tipo de impunidade que já cansa. Mas é bem pior que isso.
O que me tem vindo a transtornar é a amoralidade, o cepticismo, o ateísmo, o não é nada comigo, o não vale a pena são todos iguais, o ressabianço, a falta de princípios, dos chicos espertos, da desresponsabilização, o esquecimento da civilidade, a iliteracia e o desinteresse geral por qualquer coisa que não afecte cada um, na sua esfera pessoal, no imediato.
Fico doente por ter de dar razão aos críticos quando dizem que os portugueses são comezinhos, atrasados e por civilizar. E por isso escrevo esta carta aberta - porque não me conformo e não desisto de nós, porque no fundo sei que temos valor e valemos a pena. Por isso aqui vai:
Não quero um Portugal que apupa o hino nacional dos outros países e que não sabe o seu hino de cor
Não quero o Portugal do "não voto porque são todos iguais e não vale a pena" ou do "hoje era dia de votar? nem sabia fui para a praia".
Não quero o Portugal da Popota e da Casa dos Segredos, em que as crianças mandam nos pais e entram na adolescência aos 8 anos, com as exigências de roupas e playstations e pouco mais.
Não quero o Portugal das pessoas que se endividam mais do que podem para terem um topo de gama descartável em pouco tempo estejamos a falar de carros, ou de telemóveis, ou de malas e não têm comida para dar aos filhos.
Não quero um Portugal que vire a cara aos seus velhos, seus pais e avós, que são largados ao abandono, que pedem nas ruas para sobreviver, que vasculham caixotes de lixo, que morrem sem que ninguém dê por sua falta.
Não quero um Portugal em que as manifestações se sucedem nas ruas, mas a luta diária pelas melhores condições que se exigem, se perde entre um café e outro e é deixada nas mãos dos outros.
Não quero um Portugal do "tenho direito a ser feliz", quero um Portugal do "vou fazer tudo para ser feliz".
Quero o Portugal da imensidão do mar e da extensão de praias a perder de vista, pontos de partida para mundos que um dia tivemos a coragem de descobrir, do surf e da vela, da pesca que nos foi tirada.
Quero o Portugal do verde, do sol ameno, da cortiça, do cheiro a eucalipto, do barulho da água a correr, das energias renováveis e da inovação tecnológica, da agricultura, do vinho do porto.
Quero o Portugal do respeito por todos, da civilidade e hospitalidade, da entre-ajuda e solidariedade, da igualdade e das oportunidades.
Quero o Portugal do Mourinho, da Daniela Ruah, do Cristiano Ronaldo (apesar de tudo), da Rosa Mota, de Carlos Lopes, de Aristides Sousa Mendes, de Fernando Pessoa, de Luís Vaz de Camões, da Amália, da Marisa, do Eusébio, da Paula Rego, do José Saramago, do Papa João XXI, do Horta Osório.
Quero o Portugal das bandeiras nas janelas, do fado, dos arraiais, da sardinha assada, do fogo de artificio, da broa e do queijo da serra, das queijadas e travesseiros e manjericos.
Quero o Portugal dos castelos, palácios, muralhas, solares, ruínas, pelourinhos, fontes, praças e lugares que a história nos deixou para guardar.
Quero o Portugal das pessoas com opinião, que defendem o que acreditam sem vergonha dos seus ideais.
Quero o Portugal feito por nós, todos os dias, sem desistências e desesperança. Se falharmos a culpa vai ser nossa e não dos que nos precederam ou que virão depois. Quero o meu Portugal muito melhor. Mas não consigo fazer tudo sozinha.
Por isso, como dizia Pessoa: É hora Portugal! Mãos à obra!
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