Com catorze anos as pessoas já tinham computador e jogavam Prince of Persia. Mas o que eu queria mesmo era uma máquina de escrever. Foi dos melhores presentes que alguma vez recebi, sendo o meu maior tesouro. Actualmente, tendo abraçado a tecnologia, olho com nostalgia para o tempo em que premia as duras teclas da Olivetti, com o cuidado de não me enganar e ter de começar de novo. Hoje em dia tudo pode ser reescrito, corrigido, alterado, apagado. Naquela altura, as coisas eram mais permanentes, com tudo de mau e de bom que isso signifique. Mas uma coisa permanece, independentemente da tecnologia... A vontade inultrapassável de jorrar pensamentos no papel, seja físico ou virtual. A necessidade de soltar as palavras de dentro para fora, como se me faltasse o ar. O desejo que estas vivam depois de mim. O amor pela escrita fez de mim o que sou hoje, fez-me optar por um caminho que talvez não fosse o melhor para mim. E ao olhar para a Olivetti vejo um monumento do que fui e do que sou e do que não pode nunca ser esquecido. Eu sou na escrita e a escrita é em mim. E por muito que a falta de tempo oblitere este meu amor, sei que, mais cedo ou mais tarde, posso e vou voltar a ela. Porque nas palavras encontrei o amor da minha vida.
Desde sempre somos confrontados com binómios antagónicos: O Bem e o Mal, o peso e a leveza do nosso amigo Kundera, o quente e o frio, o ser e o não ser... Mas toda a minha vida o binómio que se apresentou mais complicado de resolver foi o que opõe as diversas perspectivas de a encarar: o copo meio cheio ou meio vazio. Mas será que a escolha resolverá alguma coisa? É que, no fundo e apesar do livre arbítrio, a vida será sempre o meio copo que, incansavelmente, tentamos encher...
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