segunda-feira, 18 de julho de 2011

Como poupar ou a lista de coisas que eu devia fazer

Dia 20 de Junho de 2011, no decorrer da crise financeira mundial e no apogeu da crise financeira pós vinda da Troika (que para quem não sabe era uma espécie de carro russo puxado por 3 cavalos), o Sr. José António Saraiva teve a bondade e o desplante de publicar a sua opinião num artigo do jornal Sol, sobre como poupar, cortando as despesas até metade.
Este artigo intitulado "fazer a mesma vida gastando metade", supostamente dirigido à classe média, tinha conselhos tão sábios como os seguintes:

"A propósito de carro, por que não escolher sempre um modelo abaixo daquele que ‘normalmente’ iríamos comprar. Em vez de um Mercedes E, um Mercedes C; em vez de um Audi 6, um Audi 4; e assim sucessivamente. E só falo de carros caros pois é onde se pode poupar mais dinheiro. (ou então comprar um skoda em 2.ª mão) Se formos para o hotel, por que não experimentar um de três ou quatro estrelas em vez de escolher às cegas um de cinco? (ou então um hostel ou até acampar) E, se teimarmos em ir de avião, não custará nada viajar em turística em vez de 1.ª ou Executiva, pelo menos nos voos de duração inferior a três horas. Chega-se ao mesmo tempo e paga-se metade. (também se chega ao mesmo tempo em low cost)"

Como podem concluir, este senhor não faz ideia do que está a falar, muito menos sabe o que é viver com um orçamento de verdadeira classe média. E na sequência da minha indignação, resolvi discorrer sobre o assunto na medida em que é preciso alguém com noção do que é verdadeiramente necessário para gerir um orçamento com ordenados de classe média e contas para pagar. É claro que tenho a noção que, mesmo assim, sou uma privilegiada, tendo em conta que existem muitas famílias que nem orçamento têm para alimentar os filhos. No entanto, e com a ressalva de alguns conselhos poderem ser da mesma forma desadequados a essas famílias, eis minhas medidas para fazer face à crise:

  • Fazer um orçamento e fazer contas ao que se gasta: Muitas vezes, os maiores descontrolos nos orçamentos domésticos decorrem do facto de não sabermos a quantas andamos. A quem já não aconteceu, não querer o talão do multibanco para nem sequer ver a desgraça do saldo e poder viver mais uns tempos na feliz e santa ignorância? Malta, ignorar os problemas não faz com que eles desapareçam. Portanto, toca a pensar e a falar sobre as despesas lá de casa. Se não vivem sozinhos, não contem só com a outra pessoa para tratar de tudo, porque às vezes pode correr mal.
  • Reduzir despesas fixas: Depois de identificadas todas as despesas, é tempo de tentar cortar nas despesas fixas e fazer a distinção do que é verdadeiramente essencial. Não estou a dizer para ficarem apenas com o Pacote Básico da Zon. Se a vossa situação não for trágica ou se os vossos objectivos de poupança não forem elevados, não vos digo para cortarem a Sport Tv ou os Canais de cinema. Porém, se tiverem na iminência da bancarrota acabem já com isso. Liguem para os vossos serviços de televisão, telefone e Internet para negociar um pacote mais barato. Ameacem mudar de operador. Façam qualquer coisa. No meu caso, mudei para a Iris e passei a pagar menos dez euros por mês, para não falar do facto de já não haver Sport Tv lá em casa. Quanto à electricidade, não há nada melhor do que a tarifa bi-horária e fazer máquinas de lavar ao domingo. Também se pode cortar exorbitâncias no seguro do carro. Contacte uma seguradora que não a sua para lhe fazerem uma simulação e vai ver a redução a acontecer. Depois destes cortes vai ver a diferença mensal no orçamento. Mais importante, não gaste a diferença em porcarias, ponha de lado.
  • Não ao crédito: Não contrair créditos, especialmente, quando se tratam de créditos aos consumo, com taxas de juro elevadíssimas. A mesma coisa se aplica a cartões de crédito. Viver com o que não se têm não é vida e os juros são ridículos. Por exemplo, por cada cem euros que levantar a crédito com o seu cartão, paga cerca de 25 euros. Ou seja, se levantar € 400 a crédito, terá de devolver ao banco €500, o que significa 100 euros muito mal gastos. Se já vou tarde demais e já se encontra endividado até ao tutano ainda há solução. Dirija-se ao seu banco e proponha uma consolidação de créditos. O mais provável é que neguem o seu pedido, porque para eles é bem mais rentável cobrarem várias taxas de juros de diferentes empréstimos. E aí dirige-se a outro banco que terá todo o prazer em receber um novo cliente. Das duas uma ou o seu banco se arrepende para não perder o cliente, ou consolida os seus créditos num só banco, mas o resultado será sempre o mesmo, reduzir as suas prestações a metade.

  • Comer bem e barato: Se estão à beira do abismo, não dêem um passo em frente. Isto é, acabaram-se as refeições fora de casa: pequeno almoço, almoço, lanche, jantar e ceia. E encomendar para comer em casa também está proibido. Para os que não estão à beira do abismo, recomendo um passo atrás, isto é, recomendo que também não façam refeições fora de casa e que limitem os jantares em restaurantes a um número pré-definido, um por semana, um por mês, conforme as vossas prioridades e agenda social. Só os cafés, pasteis de nata, rissóis, merendas e croissants aos pequenos-almoços e lanche vão fazer toda a diferença. Não dá muito trabalho ter comida em casa para lá tomar o pequeno-almoço ou fazer uma sandwish para levar para o escritório. Para além de ser mais saudável do que recorrer aos dispensadores automáticos de junk food que permanecem nas copas dos nossos escritórios. No que respeita a almoços, vá almoçar a casa, se tiver oportunidade, ou leve almoço para o escritório. Não tem de se envergonhar. É mais vergonhoso não ter dinheiro para pagar as contas. Relativamente a jantares com amigos, faça-os em casa. Combine com os seus amigos o que é que cada um traz e fica muito mais barato, para além de ser bastante mais intimista e divertido. Quanto à alimentação diária, planeie com antecedência ementas semanais por forma a preparar uma dieta equilibrada composta por refeições económicas e facilitar a preparação listas de compras, que explicaremos a seguir como fazer.

  • Comprar bem e barato: É possível comprar bem e barato. No que diz respeito a detergentes aproveite as promoções (oferta de mais 20 doses ou de mais 30% do produto) e nos produtos mais indiferenciados (detergente para o chão, lixívia, etc) compre marcas brancas. Quanto aos produtos de higiene faça o mesmo e não se esqueça de, sempre que possa, dar preferência ao que é português. Guardanapos e papel higiénico da Renova ou de marca branca se não se puder dar ao luxo (mas marca branca se portuguesa - nisso o Pingo Doce é melhor porque a maior parte dos seus produtos tem código de barra 560). Sabonetes da Feno, Patti e Ach Brito - por muitos considerado um dos melhores do mundo. Tem sempre hipóteses de ajudar a produção nacional, ao mesmo tempo que melhora a sua economia doméstica. Na alimentação passa-se o mesmo. Produtos portugueses ou marca branca Pingo Doce, que é mais barata, os produtos são melhores e maioritariamente portugueses. Se compararmos com o Lidl podemos verificar que os produtos são basicamente do mesmo preço, com a diferença que os produtos de marca branca do Lidl não são portugueses, e a qualidade fica-se, essencialmente, pelos iogurtes. Compre fruta, legumes e outros frescos na época correspondente e a granel. Faça refeições baratas. Dê preferência a carnes brancas que, para além de mais saudáveis, são mais baratas. Aproveite o pão que não come fresco fazendo tostas (no forno), açordas, migas e ensopados. Coma sopa todos os dias, porque dessa forma as refeições principais não precisam de ser em grandes quantidades. Faça massas e arrozes como pratos principais. Receitas de forno, como por exemplo, lombo de porco assado, são baratas e dão para mais de uma refeição. Deixe de beber sumos e refrigerantes. Troque por sumos naturais ou concentrados de fruta. Existem muitas ideias para encher a sua dispensa e alimentar-se de uma forma mais saudável, reduzindo o seu orçamento em metade. Comece a ser racional nas suas compras, use listas e pague em dinheiro. Vai ver que vai notar a diferença.

  • Lazer em versão low cost: Não ter orçamento ou um orçamento para lazer não implica ficar fechados em casa a sete chaves. Hoje em dia, existem várias formas de lazer a custo reduzido ou mesmo a custo zero. Faça o que fizer, não se enfie num centro comercial para passar o tempo, dá sempre mau resultado. Hoje em dia existem iniciativas que promovem os museus da cidade havendo sempre um dia escolhido ou um horário (museus à noite) em que as entradas são gratuitas. Concertos a mesma coisa. Por exemplo, durante o Verão, todos os Domingos, em certos jardins da cidade de Lisboa, realiza-se o Out Jazz com concertos de jazz a custo zero. Como estas existem muitas outras iniciativas do municípios que promovem a cultura a custo zero. Já para não falar das bibliotecas. Pode ainda aproveitar os parque e jardins da sua cidade: faça pic-nics, jogue à bola, faça caminhadas, leve bicicleta ou sente-se à sombra e leia um livro. Ande a pé ou de transportes. Leve comida para a praia e afaste-se dos bares onde os preços são exorbitantes. Deixe de comprar revistas; a maior parte delas têm edições online. Se tiver orçamento para comprar cultura de vez em quando, faça o cartão Fnac, não para usar como cartão de crédito, mas porque com os pontos atribuídos recebe cheques para comprar mais cultura, para além dos descontos constantes em livros, bilheteira e fotografia.

  • Bonita a custo reduzido: Mais uma vez, se está à beira do abismo, vai mesmo ter de deixar de comprar roupa, e sapatos, e carteiras, e restantes acessórios. Caso precise mesmo comprar, dê preferência aos clássicos e às cores neutras - nunca passam de moda e as peças ficam bem umas com as outras. Prefira lojas de roupa baratas - H&M, Primark, Modalfa, Berska, Stradivarius, Blanco, entre outras. Se tiver bom gosto e paciência para procurar ficará igualmente gira a uma miúda vestida na Loja das Meias ou El Corte Inglés. Prefira os saldos e outlets. Aproveite os saldos de fim da estação para comprar artigos que são, normalmente, caros no início, mesmo que só os vá usar no ano seguinte (botas, casacos, gabardines, etc). Aproveite os saldos de verão para comprar presentes de Natal (molduras por exemplo) ou faça os próprios presentes (desde bijutaria a compotas, vale tudo e é bem mais personalizado). Em tempo de crise ninguém se ofende. Voltando à beleza: penteie-se em casa, compre vernizes e arranje as mãos e os pés sozinha, deixe passar mais um mês entre os seus cortes de cabelo regulares, faça a sua própria depilação ou, se puder, invista na depilação definitiva que, a longo prazo, compensa.

  • No poupar está o ganho: Se não tiver hábitos de poupança, está em boa altura para começar. Depois de fazer o seu novo orçamento aplicando algumas das medidas acima definidas, estabeleça um valor que porá de parte todos os meses (sejam € 20 sejam € 200, no fim do ano faz imensa diferença). Para além deste montante, junte tudo o que conseguir poupar no dia a dia, grão a grão.. Não deixe o dinheiro que pôs de parte na mesma conta bancária, porque mais cedo ou mais tarde acaba sempre por desaparecer. Se não tiver o suficiente para fazer uma conta a prazo, ou enquanto espera pelo prazo de reforço, junte o dinheiro em envelopes na gaveta das meias, debaixo do colchão ou no mealheiro. Nos primeiros tempos, o que conseguir poupar não deverá ser utilizado em viagens, roupa ou carros novos. Crie primeiro um fundo de emergência que deverá ter o valor de oito vezes o seu rendimento mensal, que só deverá ser utilizado em caso de doença grave ou despedimento. Este fundo é essencial em tempos de crise em que nada é certo. É claro que poderá fazer mais poupanças paralelas enquanto não atinge o valor desejado no fundo de emergência, mas nunca através da redução do valor que deverá ser posto de parte para esse fim. Depois de criados hábitos de poupança, e de garantida a sua sobrevivência em tempo de crise, comece a poupar cada vez mais para comprar uma casa, para investir, para uma casa de férias, para um carro novo, para um projecto antigo, etc. Tudo será mais fácil e verá os envelopes multiplicarem-se a um ritmo inacreditável.

1 comentário:

Anónimo disse...

Uau .. que inspirada. Gostei do título.