terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Last Weekend Movies or the Couple to be





Foi com grande alegria que soube, há uns meses, que Rachel e Craig tinham casado. Ambos britânicos, ambos excelentes actores, ambos de uma beleza discreta assustadora. Às vezes tudo parece fazer sentido, e cada vez mais me convenço disso.

Sábado à noite fui ao cinema ver Millenium 1 - The girl with the dragon tatto, com Daniel Craig e no domingo vimos, finalmente, o Ágora, com Rachel Weisz, que já estava gravado na box há não sei quantos meses. E dado que foi um fim-de-semana Weisz-Craig pareceu-me o momento apropriado para fazer o meu elogio a ambos.

A Rachel Weisz sempre foi a minha actriz preferida. Não sei bem explicar porquê, ou talvez saiba. Se antes de eu nascer, Deus me tivesse perguntado: Inês, Inês (na bíblia Deus chama sempre duas vezes) que cara queres para ti? - eu tinha escolhido a dela. Mas ninguém me perguntou nada e aqui estou eu cheia de inveja boa em relação a esta senhora. Para além disso, em todos os papeis que interpreta, ela consegue sempre transmitir uma serenidade e força com o seu olhar, ao mesmo tempo que nos presentei com o seu sorriso sempre meigo. Londrina, descendente de judeus, austro-hungaros (leia-se: mãe Austriaca e pai Hungaro), sempre foi encorajada a seguir a sua arte. Começou como modelo, mas durante o seu curso universitário, de Literatura Inglesa em Cambridge, descobriu o teatro. Eu olho para ela e só vejo uma mulher inteligente, bonita, perfeita, um pouco à imagem da personagem que interpreta no filme Ágora, de uma mulher, filósofa num mundo de homens, independente nos seus ideais. Espero nunca conhecê-la porque a realidade nunca poderá chegar aos calcanhares da Rachel que criei na minha cabeça.

O Daniel Craig é o James Bond! E podíamos ficar por aqui, mas não. Comecei por estranhar mas, certamente, já entranhei a ideia do Daniel Craig como James Bond. Ao mesmo tempo que tem um ar  duro, podia perfeitamente, passar por príncipe da Dinamarca, ou país nórdico afim. E casou com a Rachel, portanto, burro não é de certeza. Pais de origem galesa, jogador de rugby por uns tempos, Criag também iniciou a sua vida artística no teatro. E depois de o ter visto a interpretar o jornalista sueco, personagem principal do Millenium 1 - The girl with the dragon tatto, ele conseguiu crescer ainda mais na minha consideração. Para além das suas qualidades interpretivas, mais fáceis de apurar do que nas interpretações do James Bond, ele é mesmo lindo de morrer. Mesmo o meu género. Na maior parte das cenas, Craig ostenta um ar doente, pálido, com olheiras, despenteado e com barba por fazer, acabado de sair da cama, cenário que podia ser trágico para qualquer um. Mas este senhor consegue ostentar o seu charme mesmo com a aparência de ter saído do degredo.
  
Mas o melhor desta match-made-in-heaven, é que eles não são o típico casal Hollywodesco. Nada contra os Brandgelinas e Tomcats desta vida. Mas estes senhores têm classe. Vivem a sua vidinha, com uns looks sempre super descontraídos mas sem descurar no estilo. São recatados e levam a sua vida pessoal de forma simples (para o género de vida que podiam ter) fora dos ecrãs e evitando as luzes e o escândalo de quem vive na ribalta. Without a doubt, the couple to be. Or at least, to envy.






sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Momento Bridget ou tentativa falhada de interrupção de cópula canina


(Fotografia de há um ano atrás. Que o meu Zé não é pedófilo)

Era mais uma sexta feira, daquelas sextas feiras com tanto trabalho que desejamos que fosse quinta. Tinha acordado mais cedo para chegar mais cedo ao escritório que no dia anterior tinha saído de lá às onze e não estava com vontade de repetir. Assim, dei água aos cães, dei-lhes comida, tomei banho rapidamente, vesti-me, sequei o cabelo e até me maquilhei. Eram nove da manhã e estava pronta para sair de casa.

De repente, ouvi o rugido da Concha, seguido de um ganir assustado, que me fez olhar para trás. Era o Zé a tentar (julgava eu) fazer meninos, como tem tentado, sem sucesso, desde há muito tempo. Chamei-o, para ver se ele parava com aquilo, mas desta vez ele não parou. Então, dirige-me a ele para o "educar", mas ele continuou. Decidi passar à acção. Enquanto puxava o Zé, por um lado, tentava afastar a Concha com um dos meus pés, por outro. Mas sem resultado. Comecei aos berros na esperança que os meus guinchos histéricos surtissem efeito. Mas nada. O único efeito foi o namorado, que saiu da casa de banho para saber quem estava a matar quem.

Quando chegou ao pé de mim a indagar o porquê da histeria expliquei-lhe que não conseguia separá-los e pedi-lhe ajuda. Ao que ele respondeu qualquer coisa como "mas ele já conseguiu?" ao que eu respondi sem certeza, "penso que sim". "Então não há nada a fazer" retorquiu ele, "prepara-te para ter cachorrinhos". "Como assim não há nada a fazer?" perguntei eu incrédula.

E aí começou a aula de biologia canina. Diz que o órgão sexual dos cães incha a um ponto, que faz com que fiquem acoplados durante bastante tempo. E não há nada a fazer senão esperar que passe para os desacoplar. Eu que vejo National Geographic repetidamente, já conhecia esta prática, utilizada em várias espécies, mas nunca me passou pela cabeça que os canídeos fizessem parte desse grupo. Esta decorrência biológica do órgão masculino canídeo permite que, (i) se tenha a certeza (ou quase a certeza - ainda tenho alguma réstia de esperança) que a fêmea é fertilizada; e (ii) se tenha a certeza que os pequenos são dele. Isto é, enquanto ele está lá preso, impede outro macho de tentar fecundar a fêmea. 

Existe uma forma de provocar o desacoplamento: água. Tipo um balde de água ou mangueirada permitiria que o dito órgão desinchasse e que a minha querida cadela se conseguisse soltar. Porém, como estávamos no meio da sala, achei que não era a melhor das ideias.

Por isso a única solução era ficar à espera, impávida e serena, e presenciar a violação da minha ursinha, prepertada pelo meu querido cão. E enquanto ela olhava para mim com um ar de quem diz "por favor, tira-me daqui" e tentava fugir, o Zé seguia-a e continuava tudo na mesma. Na minha impotência fui tirar um café. E a cadela continuava a queixar-se de dores, já que já estavam virados rabo-com-rabo. O único acto de amor ali era o facto de as caudas estarem entrelaçadas. O resto era apenas dor e aflição. E nisto passou-se cerca de meia hora, durante a qual fiz o que pude para acalmar a malta. Cada vez que me movia, a Concha vinha atrás de mim, com o Zé a reboque. Portanto, ali fiquei, à espera que passasse.

Eis que não quando, a empregada entra em casa, e os cães desatam em histeria, como de costume, para a irem cumprimentar. Pareciam siameses unidos pelo rabo a tentarem ambos irem pelo mesmo lado. Nisto a Concha vira-se para o mesmo lado que o Zé, o que provocou um uivo de dor ao cão, que a atirou ao chão para que a dor parasse, mas a dor só piorou, à medida em que se entrelaçavam ainda mais. Até que, num esticão mais violento, desacoplaram-se finalmente.

Pormenores sórdidos à parte, separei os cães, expliquei o sucedido à empregada em pânico e saí de casa às dez para as dez a pensar o que irei fazer à ninhada que possivelmente nascerá em 60 dias. Conclusão, vou ser avó em dois meses, isto tudo porque me distraí por dois segundos. Há manhãs assim.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Top 5: Canções de "Engate"

Sabem quando vivem aquela histeria em que ainda nada aconteceu mas existe um mundo de possibilidades? Todos já passámos por isto.  A maior parte das vezes, não sei porquê, há música a passar. Talvez seja um síndrome de Cinderela, em que julgamos que os príncipes só podem ser encontrados num baile.

Ou se está num bar ou discoteca, num casamento, mesmo em casa depois de um jantar nervoso a dois. E chega aquele momento em que estamos em pé, a dançar ou não,e  em que pensamos que numa boa forma de facilitar / antecipar o beijo, e a conclusão é sempre a mesma: podia agora dar aquela música!

Em que música(s) pensaram? O que vos peço hoje, é que dêem o vosso melhor e partilhem connosco as músicas mais sexy de sempre, aquelas músicas perfeitas para aquele momento que antecede o clímax do primeiro beijo. Não vos peço que me contem as "vossas" músicas, que não pretendo devassar a vossa intimidade. Peço-vos apenas as músicas que poriam na cena de "engate" de um filme cuja banda sonora estivesse a vosso cargo.

Eis a escolha da casa:

1# Let's get it on - Marvin Gaye



 
2# Sexual healing - By Ben Harper

 

3# Please Don't Stop the music - By Jamie Cullum


 

4# I'm your man - Leonard Cohen



5# Señorita -  Justin Timberlake
(Eu pecadora me confesso - não gozar!)



Momento Bridget ou a minha vida dava um filme de Woody Allen




"Death doesn't really worry me that much, I'm not frightened about it... I just don't want to be there when it happens"

A semana passada foi um tanto ao quanto banal, com imenso trabalho, nada a assinalar. No entanto, a minha sexta-feira foi tirada de um filme de Woody Allen. Saí da cama ainda a dormir e fui alimentar os "meus" cães. Para mim, esse é um momento importante do dia dado que é a única altura em que eles dependem de mim para alguma coisa, porque nas outras alturas eu bem posso dizer senta cem vezes, e puxar a trela e dizer junto, que eles não estão nem aí. Dizem que é porque não sou o macho alfa da família. No entanto, nada que eu faça, desde falar com voz grossa a largar a depilação adianta. Até acho que os cães se riem de mim. Mas não era sobre o facto de não impor respeito aos meus cães que vinha aqui falar, apesar de eles serem o motor de muitos momentos Bridget assinaláveis.

Onde é que eu ía.. ah, fui a dormir dar de comida aos cães. Ora, a comida está guardada na dispensa, no fundo da dispensa, onde o tecto é significativamente mais baixo. Porém, na sexta-feira, bati com a cabeça na parte da parede que desce, com toda a força, como se a parede nunca tivesse estado lá. Pura e simplesmente, não me baixei o suficiente. Normalmente, isto acontece-me quando estou de saltos, na medida em que a variação drástica de alturas não me permite aferir ao certo a distância das coisas ou quanto é que me tenho de baixar. Ser uma toupeira e precisar de mudar de óculos também não ajuda, eu sei. Mas desta vez, não tive desculpa. Estava mesmo só a dormir.

Ao bater com a cabeça, soltei um grito que assustou os meus cães que deram três passos para trás com medo de mim. Parece que só consigo ser o alfa quando grito de dor. A cabeça ganhou automaticamente um alto gigantesco. E pensei: ainda bem que não foi no occipital!

Resumindo, fiquei o dia inteiro cheia de dores, a avisar toda a gente o que me tinha acontecido, para poderem avisar o INEM do que se tinha passado, caso caísse inanimada no chão. E de hora a hora, nasciam-me sintomas, que apesar de saber serem psicosomáticos, não havia maneira de passarem. Desde náuseas a tonturas, tive tudo.

Quando finalmente o galo já cantava baixinho, ao ponto de já não ouvir mais do que um pequeno murmurar, cheguei a casa ao fim do dia, cheia de fome e comecei a fazer o jantar. Decidi fazer o meu risotto de limão. Comecei por raspar a casca do limão, espremê-lo, e depois de vários processos a explicar num blog à parte, provei o risotto, para poder acertar os temperos. O risotto estava amargo!! Não sei se do tipo de limão ou do facto de ter juntado limão a mais, estava amargo ao ponto do quase insuportável. Resolvi juntar açúcar e mais sal e pimenta. E umas ervas. Continuava amargo. Voltei a juntar açúcar, uma e outra vez. Transformei o risotto em qualquer coisa indescritível. Não comemos o risotto de tão mau que estava e eu estou proibida de fazer risotto de limão até para o ano. O meu querido risotto de limão, acompanhamento perfeito de vieiras saltadas em cama de legumes ou mesmo de uns simples rissóis de camarão. Tive vontade de chorar.

E assim, apesar de ser uma semana sem nada de especial a assinalar, a minha banal sexta-feira teve todos os pormenores de uma Bridget, num filme de Woody Allen, à excepção de não se passar em Nove Iorque. Teria tido muito mais graça. Há dias assim...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Top 5: Recent male Singer-songwriters

Na senda do filme Alta Fidelidade, e dado o meu amor à música, inicio hoje, perante vós meus caros 12 leitores diários, uma nova rúbrica em que escolho os meus Fab-5 de uma dada categoria. Podia ter começado pelo Top 5 de Love Songs ou pelo Top 5 Jazz Standards, mas não era a mesma coisa, e preciso de mais tempo para catalogar e classificar as músicas nesses tops, que o Mack the Knife ainda anda à bulha com L-o-v-e, em busca de um lugar ao sol.

Escolhi este tipo musical na sequência de mais uma preciosidade que descobri anteontem* , em mais uma banda-sonora. Preciosidade essa que inseri, imediatamente, na gaveta dos Cantores / Compositores. Apesar desta gaveta poder abarcar todos os géneros musicais, normalmente fica-se pelo folk, indie, soul, country e rock, sendo que só abarca música anglófona. Sim, porque se o compositor vier do Brasil nunca entrará nesta gaveta. Irá, em vez disso, para a gaveta da bossa ou do mpb, forró, choro ou mesmo para recycle bin, entre outros, mas nunca para a gaveta dos Singer-songwriters, que a sonoridade é outra.

Deste modo, e caracterizada a gaveta de hoje, eis o meu TOP 5 dos mais recentes Singer-songwriters do sexo masculino (os da velha escola, tipo Cohen ou Cash, ou os clássicos tipo Jeff Buckley terão uma categoria à parte):

Damien Rice


Eddie Vedder



Ben Howard


Xavier Rudd


Ray Lamontagne*



Já agora, peço gentilmente à minha dúzia de leitores diários que comentem, deixem a vossa opinião, dêem ideias para outros Top's ou contem-me o vosso próprio Top 5 de Male Singer-songwriters. (Pelo menos tu, Verne ;)). Através do Meio-copo, não do FB, para ficar perpetuado. Desde já agradecida. Yours Truly

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"É provável que coisas improváveis aconteçam"


"Se não fosse ela talvez tivesse morrido, penso nisto muitas vezes. Os joelhos tremiam-me, havia ainda qualquer coisa que me queria sair pela garganta, o coração certamente. A cruel verdade era que, se bem que não acalentasse já qualquer esperança de poder voltar a viver com a minha adorada mulher e gostasse cada vez mais do corpo que me trouxera a sua voz, por quem permanecia perdidamente apaixonado era pela primeira, a que não merecia nada."



Pedro Paixão, daqui

Do peso e da leveza ou perspectivas de (vi)ver a vida



Após a leitura das primeiras 3 ou 4 primeiras páginas sabia que aquele livro de Kundera era já o meu livro preferido, mesmo que tivesse parado por ali. Mas não parei. E a partir da sua construção da vida, a partir do meu binómio antagónico preferido, construi este blog, que vou reconstruindo a cada dia que passa, de há muitos anos para cá. E escolhi-o como alicerce, porque este tema é caracterizado pelo seu eterno retorno, também tão querido de Kundera.

Não sou pessimista nem sou optimista. Sou muito realista na forma como encaro a vida, mesmo estando sempre à espera do pior, levando o Murphy à letra, mas tendo sempre a esperança e o empenho para que tudo corra pelo melhor. Hoping for the best but expecting the worst. Contas feitas, noves fora, sou meio copo, que no meio está a virturde.

Odeio a desistência, o cépticismo e outras perspectivas que tais, de quem leva a vida com uma superioridade moral estratosférica, porque nunca é nada com eles. Odeio essa leveza de quem não se importa com o que acontece à sua volta, de quem não vota porque não vale a pena que eles são todos iguais, de quem é agnóstico porque não existem provas da existência de Deus e não tá para se chatear nas discussões, de quem não tem qualquer opinião, de quem tem todas as opiniões conforme o caso, de quem não tem a ingenuidade para acredita que o amor pode ser para sempre, de quem defende que um feto é um mero conjunto de células, de quem do alto da sua arrogância não acredita em nada que não lhe seja apresentado peranto os seus olhos que jazem entre palas.

A leveza, que até poderia trazer a ideia de dias de sol e água transparente e brisas amenas a percorrerem a pele, essa leveza que à primeira vista seria um conceito muito mais aprazível do que o peso, que custa sempre mais a carregar, não o é. Acaba por ser o copo meio vazio da equação. Tudo o que é verdadeiramente bom é pesado. Dá trabalho, traz responsabilidades e obrigações e não é muitas vezes fácil. Por outro lado, o facilitismo da leveza que a maior parte das vezes de tão leve que é, nada chega a ser, deixa-me vazia por dentro. E por isso prefiro o peso.

Prefiro obrigar-me, comprometer-me, responsabilizar-me e superar-me todos os dias. Prefiro ter esperança que um dia o mundo vai mudar, que as pessoas vão deixar de morrer à fome, que os políticos vão deixar de ser corruptos, do que viver de braços caídos e de cara virada para os problemas. Prefiro fazer all in e "arriscar" (com o risco devidamente calculado) do que dizer passo. A vivência de um dia de cada vez sem pensar no futuro, not a care in the world, sem planos, sem promessas, sem empenho, sem, no fundo, poder contar com o que ou com quem quer que seja, não é para mim. Infelizmente, levo sempre tudo muito a sério, apesar de me estar sempre a rir. A leveza do ser é, sem dúvida, insustentável.

 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Keep Your Head Up!






Conheci este senhor na Aula Magna, quando presenciei a melhor primeira parte de concerto de sempre. Estava lá para ver, ouvir, dançar, eu sei lá, com Xavier Rudd, aquele one man show, de quem já vos falei. Desta vez, por um acaso do destino chegámos a tempo da primeira parte, a tempo de presenciar um encadeamento de músicas com uma sonoridade diferente, sem ser estranha, em que o Ben, na guitarra, estava acompanhado por uma menina de rastas e violoncelo. A coerência entre o folk surfista com notas célticas à mistura e a sua voz rouca e quente, fez com que saíssemos para o cigarro do intervalo com vontade de mais. E lá estava ele a autografar cds, que comprei imediatamente.
 
 
Hoje, apresento-vos o novo single do mais recente álbum de Ben Howard que julguei do mais apropriado para este novo recomeço: Keep your Head Up, Keep your Heart Strong é a mensagem. Por outro lado, o vídeo-clip é simplesmente delicioso. Enjoy!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Das Saudades do meu avô - my own words

Na noite de dia um, já deitada para dormir, e sem que nada pudesse prevê-lo comecei a chorar, a lavar a alma para o novo ano. Não vi filmes tristes, não estava naqueles dias, mas desta vez liguei no cérebro uma secção que há muito tempo estava em stand-by: a secção avô. Liguei-a sem querer e quando me apercebi era tarde de mais. As lágrimas corriam e o desespero e angústia da saudade e da culpa subiam todas aos meus olhos por desmaquilhar, ao mesmo tempo que tentava impedi-lo com as mãos, sem qualquer resultado. E eu só queria dormir e ele nunca mais chegava.

Quando finalmente chegou, já tinha ido buscar todas as recordações, toda a saudade, todo o amor que tinha enterrado há seis anos atrás e já não havia nada a fazer não ser soluçar no seu abraço até à desidratação. Assim o fiz. E expliquei-lhe de onde vinha toda a tristeza, como se não soubesse tão bem, ele que também já passou pelas suas perdas, em dose dupla.

Mas eu contei-lhe outra vez, que o meu avô, o meu único avô, foi também o meu único pai. E foi um pai melhor do que foi para os filhos, segundo a minha avó. Se por ter mais tempo ou por ter percebido o que perdeu dos filhos com as ausências necessárias, não sabemos. Sei apenas que o meu avô esteve sempre presente e eu sempre fui a menina dos seus olhos. As minhas primeiras palavras foram avô e avó.

Desde sempre me levou ao colégio de carro e até à porta do ciclo a pé, até que lhe disse, em forma de pedido, que não era preciso. Sempre me preparou o pequeno-almoço e me apertou os atacadores do que quer que tivesse calçado, durante muitos anos após já saber fazer o laço. Era ele que me contava as histórias e me explicava o mundo e ainda hoje vejo o mundo pelos seus olhos.

O sonho dele era que fosse médica. E o meu também, até que a escrita foi mais forte e cometi o erro de ir para humanidades. A partir daí, o sonho dele era que tirasse o curso de Direito. E foi o que fiz. E apesar de, nessa altura, ele ainda cá estar, já cá não estava. Eu contei-lhe e ele sorriu e disse qualquer coisa como "obrigado meu Deus", mas o Meu avô já não estava cá. Nunca cheguei a conclusão nenhuma sobre de onde me vinha a motivação para as boas notas e comportamentos exemplares. Nunca consegui perceber se era por mim, se era por ti que o fazia. Mas sempre agi querendo em cada gesto agradecer-te, a ti e à avó, por tudo o que fizeram por mim.

Outro sonho do meu avô era que eu ficasse "entregue" que significava, na sua linguagem machista, ao lado de um homem que tomasse conta de mim. Ele ainda te conheceu, mas tu nunca o conheceste como queria.

Sempre quis ter bisnetos e nem eu, nem as minhas primas fomos a tempo. Sempre nos quis ver casar e eu sempre achei que, se isso acontecesse, era com ele que eu entrava. Hoje em dia, tenho a certeza, que a entrar, entro sozinha.

Tantas coisas que não chegaste a ver, porque sempre vivemos a vida sem pressa do fim, a adiar as coisas porque o tempo era nosso. Mas não era.

Tenho saudades do tempo em que achava que o meu avô ia viver para sempre. E tenho ainda mais saudades do avô que desapareceu, ainda com muito para viver. Vou ter de cumprir a tua promessa e levar a avó à Madeira, para ver se compenso a tanta falta que lhe fazes.  E vou sempre carregar a culpa do "e se" comigo, não há nada a fazer. Se eu soubesse o que sei hoje...

Sei que estás comigo porque te sinto, na minha cabeça e no meu peito, todos os dias. E agora choro tudo de uma vez, e ensopo a almofada por todas as almofadas secas deste coração, que esteve amorfo estes anos todos, só mesmo porque alguém tinha de segurar o barco.

E agora adormeço embalada nos braços de alguém que toma conta de mim. Estou entregue! Podes dormir descansado..