quarta-feira, 3 de agosto de 2011

I am such a Cliché ou Um Dia de David Nicholls

Toda a minha vida evitei clichés, estereótipos, o que lhe queiram chamar. Sempre quis ser-me, apenas, diferente ou não, tanto fazia, Desde que me fosse, em paz com a minha consciência e princípios, estava tudo bem.
Eu sei que sou a primeira a classificar as pessoas e dividi-las em gavetas. E tal como o direito, as pessoas não o são. Mas não deixam de ser caixas: coloridas ou cinzentonas, mais cheias ou menos vazias, desarrumadas, desgastadas, cheias de purpurinas... As pessoas são caixas que se vão enchendo com o que se apanha no caminho: um amigo que se faz, um livro que se lê, aquela sobremesa, a família, o trabalho, um filme que nos fez chorar ou a música que nos emociona...
Mas as caixas encaixam em prateleiras, e agrupam-se junto às que se parecem com elas, e fazem um esforço de aproximação para ficarem cada vez mais parecidas. E eu nunca tive vontade de ficar igual ou exactamente o contrário de qualquer caixa à minha volta. E sempre quis ter a minha própria prateleira. Ou seja, nunca fiz ou deixei de fazer algo por "ser giro" a não ser se achasse giro e meu achar normalmente é ligeiramente diferente. Muitos podem afirmar que pode ser esse o meu problema. Mas eu discordo.. Até porque se concordasse com eles, mudava (ou talvez não).
No entanto, isto tudo foi para vos dizer que, há uns dias atrás, me descobri numa prateleira cheia de caixinhas iguais à minha. É um facto: SOU UM CLICHÉ!!! Somos todos, diz a Sara, mas eu tinha mesmo a esperança vã de ser uma honrosa excepção.
Tudo começou quando iniciei a leitura de mais um livro para juntar à lista dos livros que iniciei de há dois anos para cá.. Já devem ascender a 20.. E nas primeiras páginas do livro deparei-me com a triste realidade de ser um cliché.. A descrição da personagem feminina e de tudo o que a rodeia parecia uma descrição minha e do meu quarto, há 4 anos atrás. E não estou a falar de uma descrição geral ao ponto de se poder aplicar a toda a gente que conhecem. A descrição era assertiva a este ponto:

"Nos últimos quatro anos, tinha visto um sem-número de quartos assim, semeados por toda a cidade como locais de um crime, quartos onde nunca se estava a mais de dois metros de distância de um álbum da Nina Simone (...)"

"Ela também tinha aquela paixão artística de rapariga pela fotomontagem; havia fotos tiradas com flash de amigas da universidade e da família numa confusão entre o Chagalls e os Vermeers e os Kandinsky, os Che Guevaras e os Woody Allens (...)."

"Tacteando à procura de um cinzeiro , encontrou um livro ao lado da cama. A insustentável leveza do ser, com vincos na lombada (...)"

"O cabelo ruivo-acastanhado estava quase propositadamente mal cortado, cortara-o sozinha, em frente ao espelho, provavelmente (...)"

Não é que me achasse "original" - aliás, sinto asco por essa palavra - porque, normalmente, a palavra original é utilizada em apenas duas situações:
(i) quando alguém se qualifica com esse adjectivo significa que está a fazer qualquer coisa deveras igual a muitas outras coisas que estão a ser feitas por outras pessoas (perdoem-me as PATAVABA mas envergarem todas umas t-shirts iguais a dizer "não sejas igual a toda a gente, o giro é ser diferente" é não só, mas também, um contrassenso); ou
(ii) quando alguém faz qualquer coisa profundamente estúpida ou sem sentido e a única forma de justificar é utilizar a palavra original.
Em todo caso, à excepção do anúncio da sumol que até estava inspirador, esta palavra encontra-se banida do meu vocabulário.
Mas também não julgava ser exactamente igual a um grupo gigantesco de mulheres. O que vale é que essas mulheres devem ter todas mais de cinquenta anos, actualmente. Eu sou um cliché, with bad timing!!! Mas de todos os clichés, este é um dos quais não me importo de ser.

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