sábado, 21 de julho de 2007

O porquê do feminismo!

Para quem comece já a pensar coisas do demo, começo por explicar o que o feminismo não é:
  • A corrente "doutrinária" em contraposição ao machismo, sendo que as seguidoras destes princípios não têm necessariamente de andar sem soutien ou com a depilação por fazer!
  • O feminismo também não é uma ideologia restrita a lésbicas nem a heterossexuais fracassadas com sede de vingança.
  • Por fim, o feminismo não é obsoleto porque as mulheres já conseguiram o que queriam: o seu direito ao voto.

Dentro do feminismo existem várias correntes sendo que uma delas defende simplesmente a equidade que reconhece as diferenças entre os gêneros mas procura a valorização simétrica entre eles. Podem chamar a esta corrente a corrente do meio copo!

O feminismo, ao contrário do que muitos e muitas pensam ainda é uma luta actual e não só para os paises de terceiro mundo. Ainda é longo o caminho para a equidade. Senão vejamos:

  • As mulheres detêm apenas 1% da riqueza mundial, e ganham 10% das receitas mundiais, apesar de constituirem 49% da população.
  • Quando se considera a criação dos filhos e o trabalho doméstico, as mulheres trabalham mais do que os homens, quer no mundo industrializado, quer no mundo subdesenvolvido (20% a mais no mundo industrializado, 30% no resto do mundo).
  • As mulheres estão sub-representadas em todos os corpos legislativos mundiais. Em 1985 a Finlândia detinha a maior percentagem de mulheres na legislatura nacional, com aproximadamente 32%. Actualmente, a Suécia tem o maior número, com 42%. A média mundial é apenas 9%.

  • Em média, mundialmente, as mulheres ganham 30% menos do que os homens, mesmo quando têm o mesmo emprego

Portanto meninas mãos à obra! Vamos trabalhar para que as nossas filhas não precisem mais de ser feministas!

Caetano Veloso y Gilberto Gil - HAITI - 2002 2/25

Quando você for convidado pra subir no adro Da fundação casa de Jorge Amado Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos Dando porrada na nuca de malandros pretos De ladrões mulatos e outros quase brancos Tratados como pretos Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos) E aos quase brancos pobres como pretos Como é que pretos, pobres e mulatos E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados E não importa se os olhos do mundo inteiro Possam estar por um momento voltados para o largo Onde os escravos eram castigados E hoje um batuque um batuque Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária Em dia de parada E a grandeza épica de um povo em formação Nos atrai, nos deslumbra e estimula Não importa nada: Nem o traço do sobrado Nem a lente do fantástico, Nem o disco de Paul Simon Ninguém, ninguém é cidadão Se você for a festa do pelô, e se você não for Pense no Haiti, reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer Plano de educação que pareça fácil Que pareça fácil e rápido E vá representar uma ameaça de democratização Do ensino do primeiro grau E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto E nenhum no marginal E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco Brilhante de lixo do Leblon E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo Diante da chacina 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos E quando você for dar uma volta no Caribe E quando for trepar sem camisinha E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba Pense no Haiti, reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Os meus dias

Cada dia sem gozo não foi teu

Foi só durares nele. Quanto vivas

Sem que o gozes, não vives.

Não pesa que amas, bebas ou sorrias:

Basta o reflexo do sol ido na água

De um charco, se te é grato.

Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas

Seu prazer posto, nenhum dia nega

A natural ventura!

Ricardo Reis

quinta-feira, 19 de julho de 2007

A esperança da Humanidade

Na esteira da discussão da natureza do Homem esta foto pareceu-me apropriada.

A educação faz toda a diferença havendo mesmo quem defenda que toda a maldade vem da ignorância (mais uns de copo meio cheio). Apesar de não concordar totalmente, porque há muita gente aí que sabe bem o que anda a fazer sei que o conhecimento faz muita diferença.

É pena que o nosso sistema de educação não tenha tanta esperança ou mesmo entusiasmo pela geração vindoura. Ou talvez seja apenas porque sabem que haverá sempre quem tenha dinheiro para colégios privados e porque argumentam que nem todos têm de ser licenciados.

Desde que os seus filhos o sejam...

Don't drive drunk

Porque ainda tenho amigos que o fazem...

quarta-feira, 18 de julho de 2007

A natureza do Homem

Ando há uns aninhos com esta dúvida a pairar no meu pensamento:

Qual a verdadeira Natureza do Homem? Nascemos naturalmente bons e somos corrompidos pela sociedade ou naturalmente maus, lobos uns dos outros? Depois de anos de ponderação e pesquisa socio-antropológica estou perto de chegar à conclusão que o Homem tem tendência a ser mau (e não falo dos homens com letra pequena porque relativamente a eles não tenho dúvidas).

Rousseau, amigo do copo cheio, defendia que foi a criação do Estado e a vida em sociedade que corromperam o bom selvagem que antes da civilização vivia em harmonia com os seus pares.

Por outro lado, Hobbes, o do copo vazio, acreditava que o Homem em estado natureza é mau e na "Bellum omnia omnes" tradução para o latim da expressão "A guerra de todos contra todos".

Eu, para variar, não gosto de cair em exageros, mas também não acredito que o Homem nasça uma tábua rasa. Passo a explicar: O Homem é animal e dessa condição decorrem os instintos. Esses instintos são o de sobrevivência, procriação, protecção da prol. Todos esses instintos não são maus a se, mas são egoistas: Nós e os nossos antes dos outros! Isto, levado a uma situação extrema leva obviamente a acções más.

É claro que em contacto com a sociedade, à medida que vamos crescendo, somos postos em contacto com uma panóplia de valores e binómios entre os quais poderemos escolher. E a partir daí começamos a julgar as nossas próprias acções e as acções dos outros, começamos até a controlar impulsos egoistas que tenhamos.

Em suma, para mim o Homem nasce amoral mas com instintos egoistas, o que deixa um trabalho enorme para os paizinhos fazerem.

Assim, volto a ser meio copo desta vez a dar para o vazio, uma espécie de óptimismo no pessimismo. Isto é, apesar do Homem ter impulsos naturalmente egoistas acredito e tenho esperança que haja alguns que munidos do seu quadro ético-moral dêem uso à racionalidade.

Eu tenho fé na humanidade mas a realidade é avassaladoramente incontornável.

domingo, 15 de julho de 2007

Just in time!

Há uns anos vi um filme que apanhei ao inicio mas do qual não sabia o nome. Esse filme relatava a estória de um encontro entre dois jovens num comboio a caminho de Viena. Um jovem americano a caminho do voo de regresso a casa e uma estudante de regresso aParis. Começaram a falar e a empatia foi instantanea. Ele convidou-a para sair do comboio e passar o dia em Viena e ela arriscou...

Conheceram a cidade, conheceram-se mutuamente, mesmo no sentido bíblico. Mas o amanhecer trazia a despedida... Prometeram encontrar-se em seis meses na mesma cidade. Tinham encontrado a pessoa certa e não a podiam deixar escapar... E o filme acabou! Ontem, sábado à noite, estava em casa com a neura. Troquei sms com uma amiga que me disse que estava a ver um filme que era a continuação de outro que tinha visto há uns anos... E que estava ansiosa para saber o final da história. E nesse momento eu soube que era aquele.

Comecei a ver e confirmei as minhas suspeitas. Eram eles, passados 14 anos, desta vez em Paris. Ela tinha faltado ao encontro não por vontade mas por falta de opção. Começaram a falar... nenhum dos dois se esquecera. Mais uma vez, o reencontro estava cronometrado, ele tinha de apanhar o avião ao anoitecer. Mais uma tarde a passear pela cidade, a reconhecerem-se. Sim, as suas vidas tinham mudado mas eles não.

Descobriram que o desencontro de Viena os tinha feito desacreditar no amor. E com esse descrédito veio a resignação.

Ele casou-se, cedeu ao compromisso, parecia o mais certo a fazer. Não amava a mulher porque não podia amar mais ninguém e nessa desesperança cedeu ao que a sociedade esperava dele, à imagem que tinha dele próprio e conformou-se deste modo para não ficar sozinho.

Ela colecionou relações que estavam destinadas a falhar porque não conseguiu amar mais ninguém como amou aquele rapaz naquela noite. Agora tinha uma relação estável com um reporte de guerra, relação que conseguia manter porque este passava o tempo fora. obviamente não o amava... nem podia.

Na cena final do filme estão em casa dela e ouvem Nina Simone, "just in time". Não vos vou estragar o final do filme estejam descansados os que não viram...

O filme acabou e eu estava sozinha na minha sala com um sorriso estúpido na cara.

E então levanta-se a questão de se existem ou não almas gémeas. E se a existir todos temos direito à nossa, que aparecerá just in time, apesar de todos os anos de sofrimento na espera. São questões válidas mas sem resposta.

O realizador do filme classifica-o como "um romance para realistas". Será? Ao mesmo tempo que nos inunda o ecrã com diálogos que nos fazem acreditar no conceito compreensivo de alma gémea chegamos à conclusão que o percurso para chegar a ele é feito de meros acasos, de sorte e azar.

O pessoal do copo meio cheio (os optimistas), acredita que apesar de todos os desencontros, que tinham de acontecer, o verdadeiro amor chegará quando tiver de ser, quando estivermos preparados... Just in time...

As gentes do copo meio vazio não acredita sequer no conceito de alma gémea vivendo na resignação de relações infrutíferas por não conhecerem sequer a existência da outra opção.

Os do meio copo, nos quais me incluo, são agnósticos no que respeita à existência da alma gémea. Não temos prova da sua existência o que não quer dizer que não tenhamos esperança pois nada impede que um realista seja ao mesmo tempo idealista. Portanto, esperamos que o acaso nos bata à porta. Mas como temos dúvidas no seu aparecimento vamos vivendo a vida ligeiramente, sem arriscar muito (nesse campo), como se vivêssemos numa quase resignação preventiva. Eu como acho que se trata de uma questão de sorte, e Bridget que se preze não tem nenhuma vou assim levando a vida.

Por último, aconselho- vos a ver ambos os filmes (Before sunrise e Before sunset, respectivamente) e a não deixarem de acreditar. Pode ser que apareça Just in time!

sábado, 14 de julho de 2007

Acordar

Pois é... ando outra vez a fugir à escrita... mas nunca ao pensamento pois desse não se consegue fugir por muito que se queira. Tive me a lembrar dos tempos antigos em que as paixões febris da adolescência me faziam voltar para escrita, na altura em forma de verso. E porque recordar é viver aqui fica um poema de quando tinha 17 aninhos... Por isso e por tudo o resto dêem lhe um desconto!

HOJE ACORDEI SOBRE A MANHÃ DESPIDA/ COM REFLEXOS DE TI EM MEU OLHAR,/ E ACORDEI MAIS UMA VEZ PERDIDA/ ENTRE A DOR QUE É A MINHA VIDA/ E A DELICIA DESTE MEU SONHAR.../

E ME ERGO ASSIM NESTA TONTURA/ ONDE A AURORA SE ESPREGUIÇA DEVAGAR/ E O FUTURO ME ACORDA DE MANSINHO.../ DEPOIS DESTA LONGA NOITE ESCURA/ ESPERA ANSIOSO ESTE ACORDAR/

OLHO, ENTÃO, PELA JANELA, PARA A RUA/ E CONSIGO APENAS VER DESILUSÃO/ POR ENTRE A GENTE QUE PASSA NUA/ DE FÉ, DE SONHO E DE VONTADE/ E ASSIM ME ENCONTRO SEM FORÇA OU REACÇÃO/ E VOU DORMIR PARA SONHAR ATÉ MAIS TARDE.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Life earth

Com tanta badalação em volta das sete maravilhas, nas quais já votei como cidadã mundial participativa que sou, está a ser esquecido outro grande acontecimento a ocorrer no dia da capicua. Pois é, para além de lembrar as maravilhas construidas pelo Homem, há que lembrar as maravilhas pré existentes a este, o que tentará ser feito no Life earth, a ser transmitido pela RTP. Este evento também contará com a participação de muitas estrelas internacionais mas o tema ambiente é sempre preterido em função dos demais... Não vos peço que percam a J-Lo na TVI. Recomendo-vos apenas que no dia 07.07.07 dêem uso ao vosso comando, se não estiverem na praia, e tentem ver o que se passa no mundo ora cultural, ora ambiental. Até lá, apaguem as luzes, não lavem os dentes com a torneira aberta, separem o lixo, usem transportes públicos e lampadas económicas, plantem uma árvore. Obviamente sem cair no extremo que retrato em mais uma fotografia de Havanna, onde nasceu uma arvore da canalização... Be Green!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Crescer

Aqui, vai a letra de uma grande música, de uma banda tuga, porque o que é nacional é bom, os Gota. Se puderem façam por ouvi-los que vale a pena: Crescer (depressa Demais) Sábios aqueles que dizem viver muito de cada vez Inverte o processo e reduz a sensatez de avaliar o que conheço. Tudo se aprende pelo modo mais difícil Quando se quer crescer depressa demais. Loucos os que pensam que aproveitar cada momento Preenche o vazio de adormecer sozinho noites a fio. Tudo se aprende pelo modo mais difícil Quando se quer crescer depressa demais. Poucos os que sabem que os pés pisados hoje Podem ser de alguém que terão de beijar amanhã.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Antinomias

Mais uma imagem, mais um binómio ou mesmo uma antinomia. Havanna é mística por isso mesmo... A cada passo que damos, numa rua qualquer, somos invadidos por uma mistura de marcos contraditórios. Por um lado, a herança estadunidense no capitólio, nos automóveis, na lingua inglesa que todos conhecem, na coca-cola que ainda é bebida, em Hemingway. Por outro a vivência da Cuba comunista na música que nos encontra onde quer que seja, na pobreza, nos silêncios comprometidos das gentes, na casa envelhecida em eterna restauração, no calor. E no entanto, não há certo nem errado... Todas as contradições constituem a cidade naquilo que ela é. E lá vem de novo à baila a conversa do costume: o que será melhor, o capitalismo ou o comunismo? E apesar de todas as discussões incendiárias que possamos ter, o bom senso leva-nos a concluir que o meio termo (o meio copo) seria a melhor opção. Não no aglomerar de contradições mas numa mistura que roçando a heterogeneidade elevasse a situação de cada um a um óptimo paretiano. Assim, os pobres dormiriam melhor, porque não teriam mais a preocupação de como alimentar os filhos no dia seguinte e os ricos dormiriam melhor, pela leveza na consciência. Quanto aos inconscientes... Bem, esses não merecem preocupação...