No dia em que foi a votação e não passou a alteração da lei da adopção por forma a permitir a adopção por casais do mesmo sexo deixo-vos aqui o meu voto de vencido. Se tiverem oportunidade vejam este episódio do American Dad (Season 3 Episode 7) que é uma delícia.
Comecei a manhã com boas notícias: a liberdade de voto estabelecida dentro das bancadas do PS e do PSD. Numa questão como esta, que não é ideológica nem política, mas pessoal, é positivo que cada um o possa votar em consciência. A consciência dos deputados eleitos pela Assembleia da República. por nós eleitos (ou pelo menos por mim que costumo ir votar) decidiu que Portugal ainda não está preparado para essa solução. Tenho pena que ainda sejamos o Nebraska mas a democracia tem destas coisas e sei que um dia, as consciências irão ser outras.
Boa notícia da tarde: houve um deputado do CDS que votou a favor. Quero conhecê-lo e dar-lhe os meus parabéns por saber distinguir as coisas e ter coragem de ter uma opinião diferente dentro do grupo alegadamente mais conservador.
É certo que a crise financeira não é a melhor altura para levar a cabo estas alterações legislativas. Mas estamos em crise há anos e alguma vez tinha de ser o dia. Perder-se-ia menos tempo se a proposta fosse aprovada à primeira, mas pronto.
Ainda vivemos numa sociedade em que a homossexualidade é mal vista, fora do mundo do espectáculo pelo menos. Ninguém o assume, porque não é politicamente correcto, e ninguém fala disso, para não ter de tomar partido, para não ser conotado com uma determinada liberalidade de costumes ou intolerância antiquada, conforme o caso. Se virmos os blogs de hoje, poucos falam sobre isto. Todos querem ter uma moral maleável conforme o interlocutor. É triste. Mas é assim.
O facto de existirem muitos homossexuais dentro do armário com medo das repercussões sociais e profissionais é prova que a discriminação ainda existe. Existe e não é pouca, infelizmente. Mas, por alguma razão e depois de várias tentativas, o casamento entre casais do mesmo sexo foi consagrado na nossa legislação e tenho esperança que um dia aconteça o mesmo com a adopção. Porque a orientação sexual de uma pessoa não define a sua capacidade de ser um bom pai ou boa mãe. E não ser o melhor para a criança porque vai ser gozada na escola é partir de um pressuposto inadmissível, que é o de não educarmos os nossos filhos para respeitarem os que os rodeiam ou pelo menos, para respeitarem a lei. É tratar a intolerância como um facto consumado.
Mas as crianças são cruéis.. Pois são, porque normalmente aprendem cedo de mais, com os adultos, a rejeitar o que é diferente. Mas todos os gordos, feios, escanzelados, caixa-de-óculos, portadores de aparelhos, sopinhas-de-massa, burros, portadores de piolhos, filhos de pais divorciados, órfãos, betinhos, dreads, riquinhos, Lyonces Victórias, etc, todos são / foram gozados na escola por alguma razão ou sem razão nenhuma se pensarmos melhor. Qual de vocês não foi? E não sobreviveram? Acham que o facto de as crianças serem cruéis seria dissuasor de deixarem de levar os vossos filhos ao oftalmologista para pôr uns óculos? Penso que não. E por que razão será a crueldade das crianças uma boa razão para impedir que um casal do mesmo sexo possa adoptar ou recorrer à inseminação? Porque não é do melhor interesse da criança ser gozada na escola? Não percebo.
Ou será que acham que a homossexualidade se pega.. Deve ser isso.
Sei que um dia vamos evoluir, tal como evoluímos em relação à escravidão, à segregação, aos direitos das mulheres, às mães solteiras, entre outros. Só tenho pena que não tenha sido hoje.
Relativamente à lei da adopção, choca-me que na lei vigente haja a possibilidade de "devolução" da criança adoptada. Alguém me consegue explicar em que terra é que a referida devolução é no melhor interesse de uma criança?
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