Há uns anos vi um filme que apanhei ao inicio mas do qual não sabia o nome. Esse filme relatava a estória de um encontro entre dois jovens num comboio a caminho de Viena.
Um jovem americano a caminho do voo de regresso a casa e uma estudante de regresso aParis.
Começaram a falar e a empatia foi instantanea. Ele convidou-a para sair do comboio e passar o dia em Viena e ela arriscou...
Conheceram a cidade, conheceram-se mutuamente, mesmo no sentido bíblico. Mas o amanhecer trazia a despedida... Prometeram encontrar-se em seis meses na mesma cidade. Tinham encontrado a pessoa certa e não a podiam deixar escapar... E o filme acabou!
Ontem, sábado à noite, estava em casa com a neura. Troquei sms com uma amiga que me disse que estava a ver um filme que era a continuação de outro que tinha visto há uns anos... E que estava ansiosa para saber o final da história. E nesse momento eu soube que era aquele.
Comecei a ver e confirmei as minhas suspeitas. Eram eles, passados 14 anos, desta vez em Paris. Ela tinha faltado ao encontro não por vontade mas por falta de opção. Começaram a falar... nenhum dos dois se esquecera.
Mais uma vez, o reencontro estava cronometrado, ele tinha de apanhar o avião ao anoitecer.
Mais uma tarde a passear pela cidade, a reconhecerem-se. Sim, as suas vidas tinham mudado mas eles não.
Descobriram que o desencontro de Viena os tinha feito desacreditar no amor. E com esse descrédito veio a resignação.
Ele casou-se, cedeu ao compromisso, parecia o mais certo a fazer. Não amava a mulher porque não podia amar mais ninguém e nessa desesperança cedeu ao que a sociedade esperava dele, à imagem que tinha dele próprio e conformou-se deste modo para não ficar sozinho.
Ela colecionou relações que estavam destinadas a falhar porque não conseguiu amar mais ninguém como amou aquele rapaz naquela noite. Agora tinha uma relação estável com um reporte de guerra, relação que conseguia manter porque este passava o tempo fora. obviamente não o amava... nem podia.
Na cena final do filme estão em casa dela e ouvem Nina Simone, "just in time". Não vos vou estragar o final do filme estejam descansados os que não viram...
O filme acabou e eu estava sozinha na minha sala com um sorriso estúpido na cara.
E então levanta-se a questão de se existem ou não almas gémeas. E se a existir todos temos direito à nossa, que aparecerá just in time, apesar de todos os anos de sofrimento na espera.
São questões válidas mas sem resposta.
O realizador do filme classifica-o como "um romance para realistas". Será? Ao mesmo tempo que nos inunda o ecrã com diálogos que nos fazem acreditar no conceito compreensivo de alma gémea chegamos à conclusão que o percurso para chegar a ele é feito de meros acasos, de sorte e azar.
O pessoal do copo meio cheio (os optimistas), acredita que apesar de todos os desencontros, que tinham de acontecer, o verdadeiro amor chegará quando tiver de ser, quando estivermos preparados... Just in time...
As gentes do copo meio vazio não acredita sequer no conceito de alma gémea vivendo na resignação de relações infrutíferas por não conhecerem sequer a existência da outra opção.
Os do meio copo, nos quais me incluo, são agnósticos no que respeita à existência da alma gémea. Não temos prova da sua existência o que não quer dizer que não tenhamos esperança pois nada impede que um realista seja ao mesmo tempo idealista. Portanto, esperamos que o acaso nos bata à porta. Mas como temos dúvidas no seu aparecimento vamos vivendo a vida ligeiramente, sem arriscar muito (nesse campo), como se vivêssemos numa quase resignação preventiva.
Eu como acho que se trata de uma questão de sorte, e Bridget que se preze não tem nenhuma vou assim levando a vida.
Por último, aconselho- vos a ver ambos os filmes (Before sunrise e Before sunset, respectivamente) e a não deixarem de acreditar. Pode ser que apareça Just in time!